São Paulo, sexta-feira, 1 de março de 1996
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Crise 'emperra' solução para bancos

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise do Nacional certamente atrasa e provavelmente bloqueia a solução para os outros bancos sob intervenção, Econômico, Mercantil de Pernambuco e Banespa.
A cada dia que passa se verifica que o rombo, nos três bancos, é maior do que o inicialmente estimado.
Assim, o saneamento das instituições exige mais recursos do Banco Central, que, sob pressão, terá dificuldades em colocar mais dinheiro no processo.
Mesmo o caso do Mercantil de Pernambuco, que parecia fácil de resolver, já se complicou. Pela estimativa inicial, se imaginava que o prejuízo a ser coberto era de R$ 60 milhões, uma quantia desprezível diante dos outros casos.
Ainda assim, segundo a Folha apurou no mercado financeiro, parece que o rombo é três vezes maior, o que torna mais difícil a compra do Mercantil pelo Banco Rural.
O Rural era credor do Mercantil em R$ 40 milhões. Assim, se colocasse apenas mais R$ 20 milhões, transformando os outros R$ 40 milhões em ações, teria o dinheiro suficiente para cobrir o buraco do banco pernambucano.
Mas se o prejuízo for de R$ 180 milhões, o Rural precisa de um empréstimo maior do BC, que já passa a desconfiar da segurança da operação.
E para completar o caso, técnicos do BC e do Rural, examinando as contas do Mercantil, desconfiam que pode haver "créditos podres", empréstimos de difícil recebimento.
No caso da compra do Econômico pelo Excel Banco, também há novos problemas nas negociações.
Temendo pela existência de um prejuízo maior, o Excel, segundo a Folha apurou, quer ficar também com as ações das empresas petroquímicas do grupo Econômico. Com essas ações, poderia capitalizar, em parte, a instituição financeira.
Sem as ações, o Excel quer um empréstimo maior do BC, nas condições especiais. O BC tem dificuldades para implementar qualquer uma dessas alternativas.
O negócio com as ações tem obstáculos legais. E o BC teme conceder empréstimo muito elevado, já que o Excel é um banco de porte pequeno.
Além disso, a operação toda é arriscada, segundo avaliação frequente no mercado financeiro. A rede de agências do Econômico é considerada de pequeno potencial.
E os clientes, obviamente, já devem ter ido embora, mais de seis meses depois da intervenção.
Finalmente, o ambiente geral de desconfiança na ação do BC torna politicamente mais difícil a solução do caso Banespa, que prevê um generoso empréstimo do governo federal para São Paulo.
Em resumo, todos os problemas do sistema financeiro tornaram-se mais complicados e o BC está com sua capacidade operacional muito enfraquecida.
Os interessados na compra de bancos em dificuldades podem achar que esse é um bom momento para tirar mais recursos e mais vantagens do BC. E isso explica boa parte das pressões que o banco tem sofrido.
Mas o BC e o governo FHC terão dificuldades para conceder, dado o impacto político da crise.
Assim, a instabilidade do sistema bancário está de volta ao cenário econômico.

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