São Paulo, sexta-feira, 1 de março de 1996
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Para Delfim Netto, 'a coisa foi longe demais'

ARTHUR PEREIRA FILHO

ARTHUR PEREIRA FILHO; ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

Dessa vez a "coisa foi longe demais". Essa é a avaliação do deputado federal Delfim Netto (PPB-SP) sobre a atuação do BC (Banco Central) no caso dos balanços maquiados durante quase dez anos no Banco Nacional.
Segundo Delfim, todos dentro do Banco Central -auditores e diretores- tinham conhecimento das irregularidades.
"O BC sabia das dificuldades do Nacional e foi transigente. Apoiava o que vinha. É lamentável", diz.
Para o deputado, é importante agora "pôr ordem na casa". Diz que é preciso responsabilizar "todos os participantes do processo".
Delfim diz que é urgente reorganizar o BC. Segundo ele, é preciso criar dois organismos distantes: um responsável pelos empréstimos de "última instância", e o outro, pela estrutura de auditagem, que vai fiscalizar o processo. A tarefa do Congresso, diz, é elaborar uma nova legislação que responsabilize todos os operadores no futuro: o BC, as instituições financeiras e as empresas de auditoria.
Delfim é contra um BC independente. "Seria preciso definir claramente o que é independência. Na minha opinião, o BC já tem independência demais"
Escândalo
A deputada Maria da Conceição Tavares (PT-RJ) define o episódio como um "escândalo" e uma "vergonha".
Segundo ela, a estrutura do BC está obsoleta. "O corpo de auditores está desaparecendo. Não há concurso há 15 anos", diz.
Para a deputada, falta comunicação entre o pessoal técnico e a diretoria. "Há um buraco entre o time jovem e as diretorias", diz.
Afirma que é preciso um novo sistema de auditoria, um plano de carreira para auditores e técnicos e comissões de fiscalização no Congresso. "Não dá para emprestar US$ 10 bilhões, US$ 15 bilhões sem ouvir o Congresso. Isso é uma palhaçada".
A deputada é contra o BC independente. "O BC não é independente, é irresponsável", diz.
Conceição defende um BC fiscalizado por órgãos independentes. É a favor da "quarentena", o estabelecimento de um período mínimo no qual diretores do BC, ao deixarem o órgão, fiquem impedidos de assumir cargos em bancos privados.
Ernane Galveas, ex-presidente do Banco Central, diz que o BC precisa fazer uma revisão em seus métodos de fiscalização. "O que já era ruim, agora ficou pior".
Presidente do BC entre 68 e 74 (durante os governos Costa e Silva e Médici), e entre agosto de 79 e janeiro de 80 (governo Figueiredo), Galveas reconhece que a atuação da fiscalização é complexa. "Mas não dá para apenas verificar se a contabilidade está correta. Tem de ir mais a fundo. Ver se as operações estão garantidas".
Galveas diz que tornar o BC independente "é bobagem". "Se der mais poderes ao BC, ele fica mais forte que o presidente."
Fiesp
Carlos Eduardo Moreira Ferreira, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) teme dois desdobramentos negativos da crise do sistema financeiro: o impasse nas negociações do acordo do Banespa e o atraso na votação das reformas constitucionais.
Ele disse não acreditar que a investigação do TCU no BC possa abalar a credibilidade do governo ou do sistema financeiro.

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