São Paulo, sexta-feira, 1 de março de 1996
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Espremer o tumor

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Espremer o tumor. Fernando Henrique já foi bem mais feliz nas imagens retóricas.
A perversão do verbo é o melhor sinal da tensão, causada certamente pelos indícios de que, como sublinhou o SBT, as investigações sobre as fraudes no Banco Nacional "acabaram não andando por interferência política".
E o Banco Nacional, como se registra a toda hora, na TV, era da família.
Abuso, tortura
O que está podre, para seguir no campo das imagens mais grosseiras, é a segurança em São Paulo.
Ontem a Cultura citou uma denúncia de tortura em Capão Redondo. Dois operários nem chegaram a ser acusados, mas foram detidos por suposto furto e torturados.
No final, foram soltos com pedido de desculpas.
Outro caso, dias antes, na mesma Cultura, era ligado aos sem-terra presos:
- Com a greve de fome, conseguiram mudar a direção da cadeia. A mudança ocorreu em virtude das denúncias de que o diretor teria castigado um líder sem terra depois que ele reclamou por estar dividindo a cela com detentos portadores do vírus da Aids.
Não é à toa que "aumentam as queixas da população de São Paulo contra a polícia", como disse a Rede Brasil.
A Globo detalhou ontem que o ouvidor criado para a polícia paulista recebeu, em quatro meses, "149 reclamações por abuso de autoridade, tortura, espancamento". E mais:
- Chegaram 11 denúncias de assassinatos cometidos por policiais.
Como no Rio, a violência da polícia é reflexo e parte ativa da violência que cobre a sociedade -violência que deu em recorde no Carnaval, incluindo três chacinas, uma delas descrita no dia, pela Manchete:
- O triplo homicídio foi na área do 100º Distrito Policial. O distrito estava sem delegado, sem escrivão, sem plantonista. Certas delegacias da periferia de São Paulo não funcionam a partir das oito da noite.

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