São Paulo, sexta-feira, 1 de março de 1996
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Deputados cobram rigor em investigação

GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Congregação da Faculdade de Medicina de Universidade de São Paulo se reúne hoje, às 8h, para debater a responsabilidade dos médicos Silvano Raia e Sérgio Mies, chefes da equipe médica que atendeu o sociólogo Florestan Fernandes, morto em 10 agosto de 1995.
Florestan, aos 75, morreu seis dias após sofrer transplante de fígado no Hospital das Clínicas. Ainda há dúvidas sobre a causa da morte, que envolvem desde questões técnicas a questões éticas.
Uma comissão de 15 deputados federais enviou ontem documento à congregação afirmando que está atenta ao caso e que espera "rigor" na investigação.
A congregação (86 membros) é competente para apurar atos de docentes, abrir sindicância e indicar punições. Raia disse ontem que só irá falar hoje, após a reunião.
O primeiro atestado de óbito de Florestan, feito por dois médicos da equipe de Raia (Pedro Caruso e William Saad Jr.) sem que fosse feita a autópsia, afirmou que ele morreu por falência de múltiplos órgãos, em consequência de transplante hepático feito em função de cirrose por hepatite C.
Depois, Raia levantou suspeita de erro técnico e a polêmica sobre a causa da morte mudou de eixo.
Novo atestado de óbito (agora pós-autópsia) apontou morte por embolia gasosa -entrada de ar no tubo da hemodiálise (filtragem artificial do sangue). A enfermeira Eloísa Aparecida Pereira acabou sendo acusada de negligência.
Mas, no inquérito administrativo do HC, três médicos do caso questionaram o segundo atestado, reafirmaram a falência de vários órgãos (antes e após a cirurgia) e acabaram por gerar dúvidas até sobre a indicação do transplante.
O médico Guilherme de Paula Schettino diz, no inquérito, que, após a morte, avisou por telefone Mies e Raia. De Raia, diz ter recebido ordem curta e "taxativa" para que a autópsia não fosse feita.
Já o médico William Saad Jr. diz que, em reunião após a cirurgia, a patologista Regina Leitão (que foi perita na autópsia) exibiu "slides" em que o fígado doado achava-se deteriorado, o que causou espanto entre os residentes.
A família de Florestan não quer indenização. Cobra apuração.

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