São Paulo, sexta-feira, 1 de março de 1996
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Quem tem medo da moda comercial?

ERIKA PALOMINO

ERIKA PALOMINO; JACKSON ARAUJO
COLUNISTA DA FOLHA

JACKSON ARAUJO
A segunda noite do Phytoervas Fashion, anteontem, se não marcou grandes revoluções de estilo, comprovou a necessidade de uma moda comercial bem-feita, no atual mercado brasileiro.
Ninguém saiu de lá achando que estava diante de um fenômeno. Não houve a histeria de público do desfile de Sommer, por exemplo, ou mesmo a tradicional gritaria suscitada pelos bofes nas coleções masculinas. Mas a evolução do trabalho de Jeziel Moraes tranquilizou e agradou a muita gente.
Estela Alcântara, na estréia de sua marca Zazá, fez uma espécie de G mais acessível. E isso não quer dizer cópia. A estilista trabalha sobre formas simples e secas, contemporâneas e em sintonia com tendências internacionais.
Isso também também é função de estilista: observar, absorver, interpretar e produzir de acordo com as carências do consumidor. No caso, de fato uma jovem mulher que trabalha, dinâmica e decidida.
Encerrando a noite, a marca francesa Olive. Que aqui funciona como exemplo e contra-exemplo. Explicando: a estilista Emanuelle Serriere (de apelido Olive), 30, sofre de problemas semelhantes aos dos estilistas brasileiros.
Ela passa pela influência mais que explícita de criadores contemporâneos como a belga Véronique Leroy (com quem trabalhou), erra muito, acerta algumas outras vezes e está tentando, lá com suas dificuldades. Só que, já que é assim, não seria melhor investir o dinheiro gasto com a vinda dela dando oportunidade para brasileiros?
Mas, se ela não tivesse vindo, não saberíamos disso de perto. A organização do evento deve pensar nisso para a próxima vez.
Voltando a quem importa, em sua segunda participação no evento, Jeziel Moraes, estilista paulista de 32 anos, volta mais maduro e com maior domínio técnico.
Mostra-se mais à vontade também em relação ao estilo. Para este inverno, aciona sua mitologia pessoal de moda, buscando o passado sem fazer retrô ou brechó.
Ainda se atrapalha em certas proporções de ombros, como no terno de veludo bordô desfilado por Rodrigo Piva. Mas marca pontos nas suéteres com recursos de cor e recortes bastante pessoais, em modernas combinações.
Tudo a suéter pistache de Rodrigo Gesswein ou a malha verde e marrom usada sobre gola alta vermelha com calça pied-de-poule, no modelo Sandro Pereira.
Momentos culminantes: o twin-set masculino -sexy e inteligente- e as justas miniblusas em tricô, que terminam estrategicamente onde começa a calça, sempre estreita. Ainda, aposta e ganha ao entrar no território das camisas estampadas, em tecido plano.
Entre os acertos de Estela Alcântara contam-se a sofisticada cartela de cores, as boas camisas e suas golas, a firme decisão nos comprimentos (mais curtos) das calças e das saias -finalmente fora da tendência pelo-joelho.
Se às vezes falta habilidade no acabamento, ao menos Estela Alcântara não tem afetação fashion. É acessível e pronto.

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