São Paulo, sexta-feira, 1 de março de 1996
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Vai você, Maluf

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Fascinado com a fantástica descoberta do prefeito Paulo Maluf ("congestionamento é progresso"), animei-me a elaborar uma série de sugestões gratuitas para que o prefeito aplique em sua próxima campanha eleitoral.
1 - Em dia de trânsito particularmente difícil, o prefeito posta-se em um desses cruzamentos em que o motorista espera o sinal abrir e fechar umas 500 vezes antes de avançar um milímetro. Espera o primeiro gesto de irritação de alguém, bate no vidro do carro e diz:
"Meu caaaaro, não se irrite. Congestionamento é progresso".
Vai, claro, arriscar a memória de sua mãe, que Deus a tenha, mas a vida pública tem esses inconvenientes, certo?
2 - O prefeito vai ao velório de uma das vítimas dos assassinatos que estão ocorrendo em ritmo industrial em São Paulo. Na hora em que a mãe de um menino de 17 anos morto a tiros começar a chorar, Maluf abraça-a e lhe diz ao ouvido:
"Não chore, minha caaara. Assassinato é progresso. Significa que está aumentando a venda de armas, o que estimula a atividade econômica e cria empregos".
3 - Para não ficar o tempo todo misturado com o tal de povo, Maluf iria também a uma dessas reuniões do Banco Mundial em que se discute financiamentos sempre condicionados à preservação ambiental.
E ensinaria: "Desmatamento é progresso, meus caaaros. Quanto mais árvores derrubadas, mais madeira para exportar e melhorar a balança comercial".
Se todos esses diferentes tipos, evidentemente atravancadores do progresso, não se comoverem, sugiro ao menos que algum assessor apresente ao prefeito o conceito de "desenvolvimento sustentado", hoje consensual no mundo (pelo menos no mundo além do Parque Dom Pedro).
Não sei se o prefeito conseguirá absorver a idéia, mas não custa tentar.
Se nada disso der certo, sempre resta a saída da sinceridade. Algum assessor menos subserviente poderia dizer a Maluf: "Ó, meu caaaro, vai você para Kathmandu".
Claro que estou usando Kathmandu não só para reproduzir Maluf, mas também porque o Otavio Frias Filho não gosta de palavrão nesta página.

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