São Paulo, sexta-feira, 1 de março de 1996
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Despautério malufista

A palavra "despautério" é definida pelo Aurélio como "grande disparate"; "asneira desmedida". O termo tem origem no antropônimo Jean van Pauteren (1460-1520), gramático flamengo autor de uma gramática latina bastante popular, mas incompreensível. E "despautério" é a palavra que melhor qualifica as declarações do prefeito paulistano, Paulo Salim Maluf, a respeito do trânsito em São Paulo.
Ao afirmar que congestionamento é progresso, Maluf não só desrespeita cada um dos cidadãos paulistanos forçados a passar horas e horas de angústia sob um calor sufocante como também ignora as mais básicas noções de geografia. Quem for a Berlim, Zurique ou Estocolmo terá dificuldades para encontrar um congestionamento; já na Cidade do México, Cairo, Nova Déli, Teerã ou mesmo na Kathmandu do prefeito, o cidadão paulistano se sentirá um amador em termos de provocar caos no trânsito.
Com a sua frase, o alcaide também demonstra o seu desprezo pelas classes desfavorecidas e deixa claro que não pretende em absoluto investir no transporte público, um dos pequenos "segredos" que tornam as grandes cidades do Primeiro Mundo lugares onde a qualidade de vida é muito superior à dos países em desenvolvimento.
Se Maluf não deseja dar origem a uma palavra pouco abonadora como Van Pauteren -coisa que, aliás, já fez no passado-, é melhor que meça suas palavras.

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