São Paulo, domingo, 3 de março de 1996
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Rio ainda é mais violento, diz secretário

VICTOR AGOSTINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O secretário da Segurança Pública de São Paulo, José Afonso da Silva, refutou os números apresentados pela Folha sobre homicídios registrados em São Paulo.
Segundo Silva, houve crescimento, sim, mas não se matou tanto em São Paulo como a Folha está mostrando. Enquanto, pelos números do jornal, os homicídios chegaram a 49,7 em cada 100 mil habitantes, o secretário apresenta dados mostrando que no último ano foram registrados 46 homicídios por 100 mil habitantes.
Silva se mostrou irritado com a comparação do número de homicídios praticados no Rio e em São Paulo e afirmou que em breve (não tem prazo definido) vai implantar um programa na zona sul de São Paulo que deve inibir homicídios.
A seguir, trechos da entrevista.
*
Folha - São Paulo quase alcançou os índices de violência do Rio. No Rio, são registrados 53 homicídios por 100 mil habitantes. Em São Paulo, são 49,7 homicídios por 100 mil habitantes. A que o senhor credita esse aumento de violência, que chega a 10% no último ano?
Silva - Não é verdade. Em primeiro lugar, essa comparação com o Rio não quer dizer nada. Não tem nenhum interesse para nós se a violência do Rio está maior ou não. O Rio teve 56 homicídios por 100 mil habitantes em 1993. Em 1995, foram 83 homicídios por 100 mil habitantes. Aqui em São Paulo, capital, ficou em 46 homicídios por 100 mil habitantes. De onde você tirou os seus números?
Folha - Do Pro-Aim (Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade no Município de São Paulo). De onde são os seus números sobre o Rio, secretário?
Silva - Baseados no que foi publicado nos jornais no último ano.
Folha - E o aumento de 10% na violência em São Paulo, como o senhor justifica?
Silva - Não foi de 10%. Houve 9,9% em números brutos. Quando se faz em porcentagem, a cifra vai para uns 2%. Veja bem, em São Paulo houve 7.358 homicídios no ano passado, o que dá 46 homicídios por 100 mil habitantes. Quando é jornal do Rio que superdimensiona a violência de São Paulo e subdimensiona a do Rio a gente até entende, mas um jornal de São Paulo fazer isso...
Folha - Secretário, não dá para negar o aumento na violência.
Silva - Mas não precisa pôr um aumento acima daquele que já existiu. Houve aumento de homicídio e você ainda põe mais. Quase não existe mais roubos de residência em São Paulo. Cadê os roubos de Rolex?
Folha - Embora tenham diminuído os de Rolex em semáforos, quase toda à classe média já teve um caso na família de roubo em semáforo feito por menores com estiletes. Esses roubos diminuíram?
Silva - Diminuíram. Pode verificar que no centro diminuiu 72% depois que iniciamos uma ação.
Folha - Perdizes (zona oeste) é o distrito mais seguro de São Paulo, onde são registrados 2,3 homicídios para cada 100 mil habitantes. Já no Jardim Ângela (zona sul) são 97 homicídios por 100 mil habitantes. Perdizes está no nível da Itália e Jardim Ângela, no de El Salvador. Como o senhor vê essa discrepância toda sob a orientação da mesma Secretaria de Segurança?
Silva - Isso é muito fácil. No país todo o Primeiro Mundo convive com o Terceiro Mundo. Perdizes é uma sociedade consolidada. Capão Redondo ou Jardim Ângela não têm uma sociedade consolidada.
São uma sociedade pobre, em ebulição, carente em tudo.
Folha - Secretário, a explicação talvez fosse também porque em Perdizes existe um PM para cada 11.000 habitantes e, em Capão Redondo, um PM para cada 64.800 habitantes, não?
Silva - Pode ser também. Por isso é que nós estamos invertendo as coisas, as prioridades.
Folha - O que vai ser feito na zona sul?
Silva - Estamos estudando as deficiências para fazer o diagnóstico. Estamos vendo as necessidades para depois definirmos os meios para saber se podemos cobrir as carências. Em setembro, por exemplo, nós implantamos um projeto e colocamos 1.500 PMs a mais nos fins-de-semana. Os homicídios diminuíram 39%.
Folha - Isso vai ser implantado definitivamente?
Silva - Sim, mas ainda não temos o prazo certo. Será preciso comprar viaturas e equipamentos.
Folha - Quantos carros?
Silva - São cerca de 260 para Polícia Civil e mais umas cento e poucas viaturas para a PM.
Folha - Vão todos para zona sul?
Silva - Não, mas vamos priorizar a zona sul.
Folha - Na Holanda, onde existe uma política diferenciada em relação às drogas e a polícia tem preocupação de desenvolver programas de tratamento para viciados, é cometido 1,2 homicídio por 100 mil habitantes. O senhor pretende desenvolver algum programa de tratamento para viciados em crack, por exemplo?
Silva - Acho muito simplista essa explicação. O crack é um estimulador da violência, mas não é só ele. Aqui existem vários outros fatores que a Holanda não tem. O sistema econômico e as condições de vida daqui são diferentes. É preciso lembrar isso. Não acho que seja assunto de minha secretaria ter um programa de tratamento. Seria talvez, da Secretaria da Saúde.

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