São Paulo, domingo, 3 de março de 1996
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Brasil 'lidera' entre imigrantes com Aids

DANIELA FALCÃO; GILBERTO DIMENSTEIN
DE NOVA YORK

Um cartaz com estatísticas na parede do Hospital Saint Vincent, principal centro de Aids em Nova York, mostra uma trágica supremacia dos brasileiros: são a primeira nacionalidade no programa que atende imigrantes ilegais portadores do HIV nos EUA.
A tendência é visível também em lugares como o GMHC (Gay Men's and Health Crisis), a organização não-governamental mais importante para ajudar soropositivos na cidade -dos 300 estrangeiros atendidos ali, 59 são brasileiros.
"A tendência é generalizada", afirma Wagner Denuzzo, assistente social do programa de imigrantes ilegais do Saint Vincent.
Um dos sinais é sua própria secretária eletrônica, na qual o português, ao lado do inglês e espanhol, é língua oficial.
No Emmerich Hospital, no Queens, brasileiros também lideram o ranking de estrangeiros com Aids, na frente dos colombianos.
"Não há uma única vez em que tenha ido ao restaurante do GMHC sem encontrar pelo menos uma mesa com brasileiros", conta Eduardo T., um carioca que vive em Nova York há oito anos.
Portador do HIV, Eduardo trabalhou como voluntário na revista "Body Positive", voltada para soropositivos. Eduardo foi bailarino no Rio antes de vir para Nova York.
Funcionário do Consulado do Brasil em Nova York encarregado de assuntos médicos, o diplomata Dario Campos recebe todas as semanas consultas de brasileiros sobre tratamentos de Aids.
Ao percorrer hospitais, Campos recebeu dicas dos médicos sobre soropositivos brasileiros que procuram ajuda médica, mas não querem saber de contato com autoridades, por temerem a deportação.
"Não temos condição de saber o número exato, só sei que que está mesmo crescendo", diz.
O consulado não tem como saber nem o total de brasileiros que mora nos EUA, já que a maioria vive clandestinamente. A estimativa oficial é de que seriam 1,5 milhão, 350 mil deles morando na região de Nova York e Nova Jersey.
Para dificultar as estatísticas, as mortes de brasileiros em decorrência da Aids não são comunicadas ao consulado. A maioria dos corpos não é deportada ao Brasil e termina sendo cremada - como o carioca Marquinhos, que morreu há três semanas e pediu que as cinzas de seu corpo fossem espalhadas por seus amigos pelo Central Park.
(DF) e (GD)

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