São Paulo, domingo, 3 de março de 1996
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Aids mata 4 vezes mais rápido no Brasil

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Doentes de Aids no Brasil morrem quatro vezes mais rápido do que pacientes europeus e norte-americanos. Estudo preliminar da Secretaria de Estado da Saúde mostrou que a sobrevida média de um doente em São Paulo é de 11 meses.
Quando a doença se manifesta, os pacientes brasileiros, na média, morrem em menos de um ano. Na Europa e nos Estados Unidos, a sobrevida média chega aos 40 meses. Em São Francisco (Califórnia), está beirando os 42 meses.
A sobrevida depende basicamente das condições de vida do doente e do acesso que ele tem a exames e medicamentos. Só no final do ano passado, a rede pública de São Paulo passou a realizar exames que contam o número de CD-4, linfócitos que indicam as condições do sistema imunológico do doente.
"A avaliação permite que se adote a medicação só no momento mais adequado", afirma Paulo Roberto Teixeira, coordenador do programa de Aids da Secretaria da Saúde de São Paulo.
"A sobrevida do paciente tende a aumentar", diz ele.
Na Europa e nos EUA, já se empregam também os testes PCR, exames que permitem a contagem viral e são mais precisos que a contagem de anticorpos.
Dois medicamentos antivirais, o AZT e o DDI, além de 38 outros para infecções decorrentes da Aids, já fazem parte dos remédios que a rede pública do país deve fornecer. A assistência médica também está garantida pela Constituição.
Na prática, faltam leitos e os medicamentos costumam desaparecer ciclicamente no Brasil. "É constante a falta de DDI e AZT pediátrico", afirma Mário Scheffer, do Grupo pela Vidda, de São Paulo.
Segundo Paulo Teixeira, 230 doentes de Aids estão internados na rede pública da Grande São Paulo. Outros 60 a 80 estão em unidades de emergência esperando por um leito.
A secretaria afirma que vem abrindo novas vagas e ampliando o os hospitais-dia, atendimento a pacientes que são medicados e voltam para a casa. O próprio Teixeira, no entanto, observa que a assistência ao doente de Aids reflete a assistência que é oferecida ao conjunto da população.
"Muitos doentes só conseguem vaga quando estão morrendo", afirma Aurea Celeste Abade, presidente do Gapa, Grupo de Apoio à Prevenção à Aids de São Paulo. "Outros estão em casa passando fome. Não têm condições nem forças para ir a um hospital-dia."
O auxiliar de escritório Geraldo, 32, foi internado no hospital de Taipas nesta semana depois de perder 50 quilos e ficar cego.
Uma amiga, Sônia (os dois nomes são fictícios), portadora do vírus HIV, passou 40 dias em sua casa, ajudando-o a comer e a tomar remédios. Geraldo só conseguiu um leito graças a organizações não-governamentais, médicos e enfermeiros que o conheciam.
Muitos doentes nem chegam aos hospitais. "A Aids está atingindo cada vez mais os mais pobres", afirma o coordenador do programa de Aids da Secretaria da Saúde. "Porque são os que têm menos acesso aos serviços de saúde."

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