São Paulo, domingo, 3 de março de 1996
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Reduzir encargos é questão polêmica

MARCOS CÉZARI
DA REPORTAGEM LOCAL

A redução dos encargos trabalhistas passa, necessariamente, pela mudança nas leis em vigor. Por isso, há polêmica toda vez que se tenta fazer qualquer mudança.
As três partes interessadas -empresas, empregados e governo- jogam pesado na defesa de seus interesses.
Para as empresas, pagar menos encargos significa gastar menos, lucrar mais e ter produtos mais competitivos no mercado externo -no caso das exportadoras.
Não significa, porém, produtos mais baratos e/ou melhores salários. Para os empregados, interessa manter o emprego e os direitos trabalhistas garantidos pela lei. Quem tem emprego não quer nem ouvir falar em perda de direitos.
Para os desempregados, o importante é ter emprego -mesmo que isso signifique abrir mão de alguns direitos- e salário para sustentar a família.
Para o governo, não interessa mudar a lei sobre os encargos -especialmente o FGTS e a contribuição ao INSS-, pois isso vai representar perda de receita para programas que já têm escassez de recursos -financiamento habitacional e aposentadorias.
O professor Amauri Mascaro Nascimento, da USP, lembra que não basta apenas empregador e empregado estarem de acordo com as mudanças. "Há terceiros envolvidos na questão -o FGTS e a Previdência. Sem a concordância de todos, não há acordo."
Os metalúrgicos de São Paulo e os empresários da Fiesp, cansados de esperar por mudanças, resolveram tomar a dianteira.
Mas a Justiça resolveu fazer a sua parte, matando a ilegalidade no nascedouro.
A Justiça do Trabalho (leia-se TRT de São Paulo) já deu dois sinais: não se mexe, para reduzir, nos direitos do trabalhador; não se contrata passando por cima da lei.
A lógica do presidente do TRT, juiz Rubens Tavares Aidar, é simples. "Retirar direitos é retrocesso." Além disso, "se uma brecha for aberta para alguns, todos vão querer o mesmo direito".
Como diz o ditado, "porteira que passa um boi, passa uma boiada".

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