São Paulo, domingo, 3 de março de 1996 |
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Dieta era mais saudável
VINICIUS TORRES FREIRE
"Durante mais de 95% da nossa história nos alimentamos principalmente de caça, peixe e plantas selvagens. Fomos programados geneticamente assim e fisiologicamente permanecemos os mesmos", diz Delluc. O exame de saúde de um homem pré-histórico só pode ser feito nos ossos. É impossível saber se eles morriam de infartos ou diabetes, pois não sobrou nenhuma "parte mole". "Há sinais de artrite e reumatismo, mas nenhum traço de câncer ou cáries", diz a arqueozoóloga Marylène Patou-Mathis. "É só a partir do neolítico, há 10 mil anos, que começamos a criar animais gordos e cultivar cereais. Então começamos a comer açúcar e gorduras saturadas, que entopem artérias. Nesse período começamos a nos tornar sedentários. É o começo da história do infarto e dos derrames cerebrais", diz Delluc. Apesar de ser considerada saudável, a dieta pré-histórica só está começando a ser identificada. Os métodos de pesquisa estão sendo inventados agora. Como são raros os restos de plantas conservados, o biogeoquímico Hervé Bocherens pesquisa os restos de proteínas de vegetais nos ossos, por meio da contagem de átomos de carbono e nitrogênio. Descobriu que, além incluir poucas frutas e parentes de grama, a dieta humana tinha o mesmo prato principal que a da raposa: carne. Para conhecer melhor o tipo e a forma da caça, Olivier Dutour, da Universidade de Provence, compara os estudos de fraturas e contusões ósseas da medicina esportiva atual com os ossos fósseis. Um osso quebrado de certa maneira pode indicar o tipo de esforço e instrumento empregados na caça. Patou-Mathis passou alguns meses entre tribos de caçadores e coletores da África. "Não se trata de comparações, nem de dizer que esses povos são primitivos. Queria só ter uma idéia mais precisa das dificuldades e técnicas 'oportunistas' de obtenção de alimentos e caça." Outras comparações permitem reforçar hipóteses. Era possível viver só de carne, sem danos à saúde. "Esquimós vivem assim", diz Patou-Mathis. A reconstituição da fauna e vegetação da época permite até imaginar um sistema de escolhas culturais dos alimentos. "Em cavernas européias há representações de bovinos primitivos, mas não encontramos sinais de caça desse animal. Já a rena constituía 95% da carne consumida por certos grupos, que não as representavam na arte", diz Patou-Mathis. (VTF) Texto Anterior: O espião que saiu da Guerra Fria Próximo Texto: Gordura que não engorda exigiu anos de pesquisa Índice |
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