São Paulo, domingo, 3 de março de 1996 |
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OPÇÃO PELA MISÉRIA Como se já não bastasse a conhecida desigualdade de renda, cuja brutalidade chega mesmo a contestar a noção de que aqui existe uma sociedade civilizada, dados do Banco Mundial mostram que até nos gastos sociais o país dá prioridade aos mais ricos e desatende aos paupérrimos. Essa distorção se repete em todas as áreas, da Previdência aos gastos em saúde e educação. De certo modo, trata-se de um espelho da desigualdade geral. Enquanto a limitação dos recursos nacionais impõe um teto ao total dos dispêndios na área social, a política, a pressão dos setores mais fortes e o descaso da nação para com os que estão fora da economia moderna agravam a injustiça social. Os mais ricos dispõem não só de parcela muitíssimo maior da renda direta como ainda abocanham a maioria dos gastos públicos. Não por acaso, transferir gastos é muito mais difícil do que o expediente insustentável de simplesmente aumentá-los. É preciso não só identificar os que devem ser beneficiados como definir e enfrentar os que perderão. E o governo FHC quase nada fez nesse sentido. Não se trata apenas de pôr em prática os princípios de justiça social. Está comprovado que os investimentos no homem são também a melhor maneira de obter o sucesso econômico e desenvolver um país. O caso da educação é o mais evidente. O Banco Mundial constata que a cada ano a mais de escolaridade o rendimento do trabalhador aumenta 17% nas áreas urbanas. No Brasil, só um terço das crianças completam o primário. Se, para além de discursos pré-eleitorais, o país quiser de fato combater a miséria, apenas 0,8% da renda nacional seriam suficientes para trazer para a linha de pobreza todos os que hoje estão abaixo dela, segundo o Banco Mundial. O que não há é a decisão política de investir nos pobres, em vez de reproduzir a miséria. Próximo Texto: O MENOS PIOR Índice |
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