São Paulo, domingo, 3 de março de 1996
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Recessão, exportação e emprego

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

O Relatório da OIT sobre o emprego no mundo levanta uma questão de fundamental importância: por que países de semelhante nível de desenvolvimento e submetidos às mesmas forças econômicas obtêm resultados tão diferentes no campo do emprego? (OIT, "El Empleo en el Mundo", Genebra, 1995).
O caso mais eloquente é o da Ásia, em especial os Quatro Tigres (Coréia, Taiwan, Cingapura e Hong Kong). Nos últimos 20 anos, a região revelou uma invejável capacidade de gerar empregos enquanto o nosso país restringiu seu potencial de empregar. Hoje o Brasil tem 5,3% de desempregados e mais de 55% de postos de trabalho precários, no mercado informal.
Em que consistiu o milagre asiático? Será que a região deixou de usar tecnologia? Será que o emprego surgiu de investimentos intensivos em mão-de-obra? Nada disso. O principal responsável pela enorme expansão do emprego foi o rápido crescimento das exportações de produtos industriais. Nos últimos 20 anos as exportações da região cresceram, em média, 9% anuais. No período de 1991-94 aumentaram 11,4% ao ano (!). Nos Tigres Asiáticos, a exportação de manufaturados responde por 78% das exportações totais, enquanto na América Latina isso não passa de 31%.
É verdade que ali entraram muitos capitais estrangeiros e de forma maciça. Nos últimos cinco anos, as empresas multinacionais responderam pela criação de 12 milhões de empregos nos países em desenvolvimento, dos quais cerca de 8 milhões surgiram na Ásia. Na década de 80, o emprego cresceu na base de 2,3% ao ano em Hong Kong e 5,9% em Cingapura. O emprego industrial cresceu, em média, 6% ao ano. O salário real cresceu 5% anuais.
Isso tudo decorreu de políticas bem articuladas baseadas na estabilidade econômica, bons níveis de poupança, altos investimentos domésticos e estrangeiros e, sobretudo, de uma industrialização voltada para as exportações. O fator mais decisivo em tudo isso foi a incorporação da região na economia mundial.
Os dados dos Tigres Asiáticos demonstram que, se bem-aproveitado, o mercado externo pode se tornar uma vantagem no campo do emprego. Além dos fatores acima, esse tipo de estratégia alcança pleno sucesso quando a legislação trabalhista é flexível e a preparação da mão-de-obra é de boa qualidade. Esses dois fatores são tão estratégicos quanto os investimentos.
O Brasil persegue uma perversa combinação de fatores para gerar empregos: (1) baixo investimento doméstico; (2) desestímulos à entrada de capitais produtivos; (3) bloqueios às exportações; (4) regulamentação excessiva no campo trabalhista; (5) qualificação de mão-de-obra insuficiente e precária.
Está na hora de pensarmos seriamente em reverter esse quadro e, sobretudo, elevar as exportações do Brasil dos atuais 10% do PIB para, no mínimo, 20%, que é a média mundial. Só assim poderemos esperar mais empregos.

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