São Paulo, domingo, 3 de março de 1996
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Governo ficou refém

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Queiram ou não os interessados, o governo de Fernando Henrique Cardoso está começando a repetir os escândalos do governo Fernando Collor de Melo. Com a agravante da correção monetária (mais dinheiro envolvido nas maracutaias) e menos pudor. Armou-se a aliança PSDB-PFL que garantiu votos na eleição e agora garante escudo nas investigações. A simetria é perfeita: para um escândalo no PFL (Econômico) corresponde outro no PSDB (Nacional).
As mãos se lavarão reciprocamente e não haverá CPI -afinal, sem CPI Collor teria chegado ao fim do mandato e, quem sabe, teria sido reeleito. Na quinta-feira, os caciques do PFL e PSDB se reuniram e fizeram aquilo que os latinos descreviam como "assinus assinum fricat". As últimas revelações indicam que o raio caiu muito próximo ao presidente da República.
Como ministro da Fazenda, responsável pelo Banco Central, ele deveria saber da situação do Nacional. Mas já era candidato, precisava de um grande suporte financeiro para a campanha. Não levou em consideração as denúncias de que as coisas estavam mal paradas no Nacional. Na época, FHC era o responsável maior e direto pelo curral.
No auge da crise Collor, o então presidente foi a um jantar na casa de um deputado de nome complicado, bebeu um pouco e disse inconveniências. O mesmo aconteceu agora com FHC (menos a bebida): foi jantar na casa de um deputado chamado Pauderney (o anterior era Onaireves) e se lixou para o Congresso.
Num caso como no outro, o Planalto divulgou desmentidos. Nem Collor teria ofendido congressistas nem FHC garantiu que Fujimori é quem está com a razão.
Mas, somando tudo, o débito moral e político do governo vai ficando cada vez mais alto. Está se tornando um refém não da classe política, mas de ladrões, batedores de carteira da nação.

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