São Paulo, domingo, 3 de março de 1996
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o melhor policial do Brasil

ALESSANDRA BLANCO

Swat americana aprova 28 policiais brasileiros
Eles acertam 2.200 tiros, com qualquer tipo de arma, sem erros. É pouco? Também fazem dez flexões de braço a cada série de tiros. Tudo isso, é claro, depois de passar por testes de natação e corrida intercalados por exercícios abdominais.
Os 28 homens homenageados na Academia de Polícia de São Paulo no dia 16 de fevereiro exibem, desde então, o certificado de membros da Swat (Special Weapons and Tatics) e, por consequência, de melhores policiais do Brasil.
Eles passaram por 21 dias de treinamento com sete instrutores da Swat de Miami (EUA).
Não são musculosos e nem tão fortes. Proíbem os filhos de assistirem a filmes do Rambo. Valorizam a agilidade, a disciplina e a tática. Passam horas elaborando planos minuciosos para salvar embaixadores presos por sequestradores em ilhas desertas ou crianças trancadas em prédios junto com marginais.
Quer dizer, livram os mocinhos dos bandidos sem precisar ter uma fita vermelha na cabeça. De Hollywood, só se permitem assobiar a música do seriado da Swat -quase inevitável- enquanto chutam portas de cômodos em prédios abandonados à procura do "inimigo".
No treinamento, aprenderam a entrar em locais suspeitos sem a chance de serem feridos, livrar reféns de criminosos sem matar inocentes, abordar carros de traficantes sem dar chance a qualquer reação e "varrer" prédios tomados por marginais em apenas sete minutos.
Tanta agilidade e eficiência pode soar como piada para os padrões brasileiros. Basta lembrar as mortes da professora Adriana Caringi, em 1990, e de dois operários de uma construção no Morumbi, no ano passado. Nos dois casos, as vítimas eram reféns de assaltantes e foram mortas por policiais enquanto se negociava sua liberação.
O coordenador da equipe de instrutores americanos, tenente Armando Guzman, declara, no entanto, que com os 28 homens que treinou será diferente.
"Vim ao Brasil transformar corredores iniciantes em maratonistas, homens sem treinamento básico em policiais de elite, mas não tenho conhecimento de nenhuma morte de refém provocada por um membro da Swat seja qual for o país dele", disse.
Para chegar aos 28 melhores, outros 243 policiais foram recusados. Falharam nos testes da pré-seleção brasileira ou apresentaram alguma fraqueza diante de Guzman.

A fraqueza pode ser desde o esgotamento físico até um descontrole emocional ao ser repreendido por causa de um sapato mal-engraxado.
A estrela da turma, o delegado titular da Delegacia de Extorsões do Depatri (Departamento Estadual de Investigações de Crimes contra o Patrimônio), Paulo Sérgio Pilz Campos Mello, 31, perdeu as contas de quantas flexões fez por ter se apresentado com a barba "imperfeita" ou ter feito uma "pergunta idiota".
O instrutor da Swat Steven Caceres explica que o estresse serve para que o policial, no caso de ser humilhado por sequestradores, presos amotinados ou traficantes, se mantenha firme e saiba qual tática utilizar.
É na falta de continuidade que surge a maior crítica da Swat aos brasileiros. Três semanas de treinamento tornaram 28 homens os melhores policiais do país, mas esse título não deve durar.
A cada ano, é preciso colocar à prova o que se aprendeu. É assim nos EUA. "Um único tiro errado significa estar fora da Swat", diz Caceres.
No Brasil, isso já não deu certo uma vez. Os 14 policiais graduados pela Swat em 1990 nunca mais passaram por qualquer teste.
Desta vez, o delegado brasileiro Maurício José Lemos Freire, único instrutor da Swat na América do Sul, promete continuidade. "Os brasileiros precisam confiar na polícia e não conseguiremos isto sem treinamento e confiança no nosso trabalho."

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