São Paulo, segunda-feira, 4 de março de 1996
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Irreverência ou morte!

CELSO LODUCCA

Dia desses estava lendo que um ser hurbano (com "h") é atacado impiedosamente por alguns milhões de informações diferentes por dia!
E que a grande maioria desses estímulos são quase que instantaneamente deletados, descartados, executados sem dó.
O que parece uma decisão de muito bom senso de Deus, já que seria impossível lidar conscientemente com tantos dados.
Mas, divindades à parte, o que faz correr um frio na minha espinha é a dedução óbvia de que, entre essas infinitas informações jogadas nesse nosso Carandiru cerebral, podem estar (e estão) a maioria dos comerciais ou anúncios que as pessoas assistem, lêem ou ouvem.
Ponha-se no lugar do cliente: dezenas de milhares de reais para fazer os anúncios, mais alguns milhões de reais para veiculá-los (aparecer nos veículos de comunicação) e uma chance enorme de ninguém lembrar disso.
Agora, ponha-se no lugar de uma agência, daquelas sérias: como evitar uma catástrofe dessas? Como fazer para que o produto do cliente fique agarrado aos neurônios do consumidor e, se possível, na artéria aorta também? O que fazer para que o produto seja, primeiro, notado; segundo, lembrado da maneira certa; e terceiro, desejado?
Vamos por partes: claro que cada produto, mercado, cliente, país, às vezes até um bairro, exige uma solução diferente. Mas algumas generalizações são possíveis, sem grandes erros, e vale a pena discuti-las.
Em primeiro lugar, é indispensável deixar que a alma do público-alvo tome o nosso corpo, que passemos a pensar como ele pensa, sentir como ele sente, quase agir como ele age.
Para isso, além das pesquisas de comportamento, é preciso ser capaz de ser o outro.
Só assim, na hora de ser você mesmo e criar para o outro, é possível saber qual a mensagem importante, relevante para o público-alvo, falar na linguagem mais verdadeira e, por consequência, mais envolvente, encantadora e, por isso mesmo, motivadora.
Isso é o que desequilibra o jogo, o que alguns chamam de "cereja" da sobremesa, "champignon do estrogonofe".
Hoje, não há informação de mercado que o dinheiro não compre, não há rapidez que a tecnologia não alcance, mas o mais importante: não há nada que substitua a paixão, o envolvimento e aquela coisa impalpável chamada talento.
Com um pouco de dinheiro, qualquer empresa pode ter acesso ao que todas as outras também têm. Qualquer um pode ficar igual.
Mas quem quer ser igual? Ou pior, quem pode, em um mundo tão competitivo, se dar ao luxo de não ser diferente? Que empresa ou produto pode correr o risco de ser varrido para o buraco negro da indiferença? Quem quer ver o seu produto (e o seu dinheiro) ser esquartejado por neurônios exterminadores?
Enfim, na hora de escolher um parceiro, exija as igualdades (estrutura, seriedade, resultados) e decida-se pelo que é único -paixão.

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