São Paulo, quarta-feira, 6 de março de 1996
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Não houve desfiliação, diz direção do PT

DA AGÊNCIA FOLHA EM PORTO ALEGRE

O líder do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente nacional do partido, José Dirceu, criticaram, em Porto Alegre (RS), a manchete da Folha da edição de ontem.
Segundo eles, o PT não perdeu 600 mil de seus 700 mil filiados em um ano, conforme afirmou o jornal. "A manchete é um absurdo. Não houve um processo de desfiliação, portanto o partido não perdeu nenhum filiado", disse Lula.
O número de filiados antes e depois da campanha de refiliação foram fornecidos à Folha pelo secretário-geral do partido, Cândido Vacarezza, e confirmados pelo secretário de Organização do PT e membro da Executiva Nacional, Francisco Rocha.
"O processo de refiliação faliu. Estávamos com mais ou menos 700 mil filiados e conseguimos refiliar mais ou menos 100 mil", disse Vacarezza, no dia 29 de fevereiro, em entrevista gravada à Folha.
O processo de refiliação no PT começou em fevereiro de 95 e terminou em 15 de dezembro. Ao iniciar a campanha, a direção do partido pretendia alcançar, no mínimo, o antigo número de filiados.
A idéia era só permitir a participação nas prévias, que escolherão os candidatos a prefeito, das pessoas que se refiliassem. As que não participassem da refiliação não seriam mais consideradas membros do PT.
Com o resultado tímido da campanha, o partido mudou de idéia e resolveu permitir a participação nas prévias de todos os antigos filiados, contra a opinião de Lula.
Em declarações à Folha, publicadas na edição de ontem, José Dirceu afirmava que o resultado ficou "aquém do esperado" e que o "processo foi mal planejado".
Ontem, Dirceu disse que, contando os antigos filiados, os refiliados e os novos, o número de filiações petistas está em torno de 900 mil, das quais cerca de 150 mil são de agosto de 95 para cá.
O trabalho de refiliação deve durar dois anos, segundo o presidente nacional do PT.
Lula, que deu o pontapé inicial da campanha e foi o "refiliado nº 1", afirmou que o processo foi prejudicado pelas disputas internas nos diretórios municipais.
Segundo ele, muitos diretórios decidiram não refiliar para "não inchar o partido na véspera das prévias" eleitorais.
Nos diretórios em que a refiliação foi feita, disse Lula, citando o exemplo de Diadema (SP) e Ipatinga (MG), houve um "abuso de filiações", que alcançaram quase 30 mil filiados.
Na opinião do presidente do PT, a manchete da Folha "é um equívoco gravíssimo", pois o restante dos petistas que não se refiliaram -em torno de 600 mil- continua com ficha válida no partido.
Ele disse que a filiação só é extinta com um pedido à Justiça Eleitoral. "O PT não pode cancelar a filiação de um cidadão. O juiz dá direito a ele de votar na convenção. Está na lei eleitoral."
Novas refiliações
Lula disse que, terminadas as prévias petistas, é preciso "retomar" a refiliação.
Dirceu previu que, ao final do processo, a perda de filiados variará entre 15% e 25%.
Ele disse que o processo será retomado a partir de refiliações "pilotos" no Rio Grande do Sul e no Rio Grande do Norte.
"A grande importância dessa campanha é ter contato direto com os filiados", afirmou. O trabalho deve durar dois anos.
Lula disse ontem ser a favor da cobrança de uma anuidade dos filiados ao partido.
"Se os adeptos da Igreja Evangélica pagam 10% do seu salário por sua fé, acho que o petista pode pagar 1% do seu salário pela sua fé na política e no partido", declarou o principal líder do PT.

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