São Paulo, quarta-feira, 6 de março de 1996
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Gustavo Loyola admite que o BC errou

GUSTAVO PATÚ
CARI RODRIGUES

GUSTAVO PATÚ; CARI RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Presidente do Banco Central depõe aos senadores sobre a crise do Nacional e isenta FHC de culpa

O presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, disse ontem, em depoimento no Senado, que a fiscalização do BC errou ao não detectar as fraudes praticadas desde 86 pelo Banco Nacional, no valor de R$ 5,3 bilhões.
"Assumo a parcela de responsabilidade do BC", afirmou Loyola no tumultuado depoimento que começou às 10h10, no plenário do Senado. "O BC não é perfeito e estamos abertos a críticas. A fiscalização teve sua parcela de culpa. Erramos", completou.
O presidente do BC disse ainda que "errar faz parte da atividade humana" e que "o BC não conseguiu detectar o problema".
Loyola, durante o seu depoimento, insistiu que o presidente Fernando Henrique Cardoso não sabia das fraudes do Banco Nacional.
Ele recuou em relação a uma entrevista para TV, na semana passada, em que chegou a dizer que FHC sabia das fraudes.
Ontem, ele disse que o BC e o resto do governo -incluído FHC- só tomaram conhecimento das fraudes do Nacional após a intervenção federal no banco.
Ou seja: depois de 18 de novembro último, quando o BC assumiu a administração do Nacional, vendeu-o ao Unibanco e iniciou inquérito administrativo para apurar os motivos da crise financeira.
"O presidente tinha conhecimento dos fatos em um grau de detalhamento muito menor", declarou, sem explicar qual seria o nível de conhecimento de FHC. "Não houve conivência com as fraudes".
Na abertura do depoimento, o presidente do BC usou um tom catastrófico para convencer os parlamentares de que, ao socorrer os bancos, o governo ajuda os correntistas -e não apenas banqueiros.
"O governo não pode pagar para ver uma crise bancária", disse, para reforçar a idéia de que uma crise financeira seria o pior, hoje, para o Brasil.
O presidente do BC citou a recessão, a queda no Produto Interno Bruto e o desemprego como consequências das crises financeiras.
Exemplificou com a crise bancária criada no governo Collor (1990-1992), geradora de uma recessão depois do confisco da poupança e de outras aplicações financeiras.
Proer
Loyola argumentou que o programa de fusões bancárias do BC não configura proteção aos donos de bancos, todos afastados do mercado. "Isso é para mostrar que este governo não tem pacto com os banqueiros".
O presidente do BC falou às comissões do Congresso encarregadas de examinar as MPs (medidas provisórias) das fusões bancárias e das novas regras para intervenções do BC. Esteve acompanhado de três diretores e 20 técnicos do BC. Seu depoimento foi suspenso na tarde de ontem e foi retomado por volta das 18h15. Não havia acabado até as 20h30.
Loyola se armou de dados para convencer deputados e senadores de que o programa de fusões não significa subsídio e é mais barato ao país que uma crise bancária.
Atrapalhou-se, porém, ao explicar o destino dos R$ 5,898 bilhões injetados no Nacional. Pediu ajuda ao diretor interino de Fiscalização, Cláudio Mauch, que também não conseguiu esclarecer as dúvidas.
Nervoso em alguns momentos, Loyola chegou se irritar quando perguntado pelo deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) sobre qual era a utilidade do BC. "O BC está inserido em um contexto maior. Não é seu papel algemar banqueiros", disse, elevando a voz.
"É preciso ressaltar que o senhor Magalhães Pinto (família controladora do Nacional) está na mesma situação do senhor Calmon de Sá".

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