São Paulo, quarta-feira, 6 de março de 1996
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Financiamento de carro é suspeito

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

As fraudes cometidas pelo Banco Nacional podem não ter sido apenas jogadas contábeis para disfarçar rombos antigos em seu caixa. Em alguns casos, houve recente desvio de recursos por meio de empréstimos fraudulentos, avalia o advogado Sérgio de Almeida.
Na semana passada, Almeida levantou oito casos de financiamentos supostamente fictícios ao fazer uma pesquisa no Fórum da Comarca de Itanhaém, na Baixada Santista. No total, essas fraudes teriam desviado R$ 196 mil do Nacional no final de 1994.
São oito ordens de apreensão de veículos financiados pelo Nacional para "clientes" da Amazonas Automóveis e da Souza Ramos, revendedoras da Fiat e da Ford, respectivamente, em São Paulo.
Em todos os casos, o Nacional financiou a compra de veículos novos ou seminovos sem exigir garantias ou comprovação de renda dos supostos clientes. Os endereços dessas pessoas, como se descobriu depois, eram falsos ou inexistentes. Os telefones, idem.
As lojas receberam o dinheiro e os veículos foram revendidos em seguida, pelos compradores, para terceiros. Desavisados, estes pagaram à vista.
Os "clientes" do Nacional, como era de se esperar, não saldaram suas dívidas e hoje os atuais donos dos carros correm o risco de ficarem a pé. É que o próprio banco (hoje Unibanco) entrou na Justiça para reaver os veículos.
Uma das vítimas é o empresário Antônio Vicente Ferreira, de São Bernardo do Campo (SP). Ele contratou Almeida para recuperar um Fiat Tempra, apreendido pela Justiça.
O veículo havia sido financiado originalmente por Vera Lúcia Marinho de Oliveira, acusada de estelionato e presa por roubo a banco no final de fevereiro, em São Paulo. Ferreira, segundo o advogado, foi enganado ao comprar o Tempra de Vera Lúcia, há um ano, pois os documentos do veículo não apontavam pendências fiduciárias em favor do Nacional.
"Os oito casos são semelhantes. Pessoas idôneas compraram veículos financiados originalmente para `laranjas'. O dinheiro saiu mesmo do banco, mas as fraudes estouraram nas mãos de inocentes", diz Almeida. O advogado obteve no Fórum de Itanhaém os següintes autos de apreensão, juntamente com documentos de financiamento do Nacional, sem garantias: Fiat Tipo, placas GIH-0002, em nome de Mauricélia Silva Gonçalves; Monza SL, em nome de Robson Luiz Vicentim, placas BNF-6617; Alfa Romeo, chassi nº ZAR164000R6307270, em nove de Alice Teixeira de Carvalho; Ford Escort XR-3, placas FUE-5555, em nome de Aparecida de Jesus Penha; Fiat Tempra, chassi 9BD1159000R9096319, em nome de Marilda Pedroso Siqueira; Ford Escort XR-3, placas EQI-9999, em nome de José Arnaldo Ferreira;
"Esses veículos não foram todos encontrados pelos oficiais de Justiça, pois os endereços dos 'laranjas' eram frios", comentou Almeida. Seu cliente, entretanto, teve seu Fiat Tempra apreendido porque o oficial de Justiça encarregado do caso encontrou seu verdadeiro endereço no Detran. Agora, Ferreira tenta provar que agiu como terceiro de boa-fé ao comprar o Tempra.

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