São Paulo, quarta-feira, 6 de março de 1996 |
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Confusões
LUÍS NASSIF Por desconhecimento ou malícia, há uma enorme confusão envolvendo a atuação do Banco Central no caso Nacional.Uma pequena mostra das impropriedades cometidas ao longo desse período. 1) O senador Antônio Carlos Magalhães diz que desde março passado sabia do rombo do Nacional. O senador confunde os rombos. Há duas espécies de rombo em um banco. O primeiro é o rombo de liquidez. O segundo é o rombo patrimonial. Bancos captam depósitos que são aplicados em empréstimos. Quando ocorre uma corrida, os depositantes sacam o dinheiro, mas o banco não consegue receber dos devedores na mesma velocidade. Ocorre um problema de caixa, que costuma ser resolvido pelo redesconto -uma linha constituída de parte dos depósitos dos próprios bancos, junto ao BC, justamente para atender a essas emergências. Se o banco estiver com as contas em dia, passado algum tempo os empréstimos vão vencendo, o banco vai recuperando o dinheiro e pagando o redesconto. Até outubro julgava-se que o Nacional padecia desse tipo de problema. Tanto que não há uma só matéria na imprensa, e nenhuma declaração do senador ACM, em sentido contrário. O segundo problema é a questão patrimonial. É quando parte dos empréstimos ou são de difícil recebimento ou são fruto de uma fraude (como foi o caso do Nacional). Esse tipo de informação só apareceu em outubro e pegou inclusive o mercado de surpresa. 2) O BC desviou R$ 25 bilhões dos programas sociais para instituições financeiras. Mais uma vez confunde-se empréstimo de liquidez com rombo patrimonial. Dinheiro do redesconto não é receita fiscal que é desviada das obras sociais da CNBB. É dinheiro do sistema utilizado justamente para resolver crises de liquidez de instituições. A perda efetiva é aquela que serve para cobrir os rombos patrimoniais (que são elevados, mas muito longe dos R$ 25 bilhões). 3) O BC deveria ter dado voz de prisão aos Magalhães Pinto assim que foi informado das fraudes. Quem diz isso não tem noção mínima do funcionamento de um Estado democrático. O BC não é polícia. E esse tipo de fraude não comporta prisão em flagrante. Comporta processo e condenação judicial. As medidas tomadas pelo governo, depois de descoberta a fraude, não livrarão nenhum fraudador das penas da lei. Dependendo da Justiça eles poderão perder todos seus bens e ser condenados. O que se quer mais? A pena de morte? Linchamento? 4) O BC doou R$ 2 bilhões aos Magalhães Pinto. Confunde-se o controlador com a instituição. Empréstimo de liquidez serve para a instituição pagar o depositante que quer sacar o dinheiro. Esses R$ 2 bilhões foram para a conta dos correntistas e transferidos por estes para instituições mais seguras. Culpa no cartório O BC, Malan, o inacreditável Ciro Gomes, Pérsio Arida e o próprio presidente têm outro tipo de culpa no cartório: a incompetência de não se darem conta de que o final da inflação traria à tona as distorções acumuladas no setor financeiro. E a falta de vontade política de procederem à reestruturação do BC e do próprio sistema financeiro privado, como condição prévia para o bom encaminhamento do Real. Daí a envolvê-los como cúmplices de fraude vai uma distância que nem os gritos do senador ACM conseguirão vencer. Malan A reconstituição do caso Nacional, feito por Marcos Sá Correa, da "Veja", suscita uma questão intrigante: onde estava Malan em todo esse processo? O ministro da Fazenda aparece apenas uma vez, quando Gustavo Loyola apresenta a ele o problema. Depois some de cena, deixando todo o desgaste para o presidente da República. Texto Anterior: Caem o desemprego e a inflação no Chile Próximo Texto: Morte de criadores chega a duplicar venda das obras Índice |
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