São Paulo, quarta-feira, 6 de março de 1996
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Brasil tem hoje a chance de se consagrar

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Tá certo: a Argentina joga em casa, tem um ataque arrasador, e o Brasil ainda não atingiu o ponto nesta competição, embora tenha levado todos os adversários de roldão.
Mas bem que o Brasil pode sair de campo hoje consagrado.
Explico: os argentinos são extremamente falhos na defesa; mais que isso, são estabanados.
Sob a pressão da torcida, então, tudo pode acontecer.
É bem verdade que eles podem encetar uma blitz irrefreável desde os primeiros minutos e, já com meia hora de jogo, assegurar uma vantagem significativa. Afinal, nossa dupla de zagueiros de área consegue ser mais desastrada do que dos argentinos. E não foi por falta de aviso que Zagallo insistiu com essa formação.
Por outro lado, já contra o Uruguai, Juninho e Sávio deram sinais de recuperação, e Beto conferiu mais consistência e maior dinâmica ao meio-campo.
Sim, porque o nosso grande problema é que os craques do time -Juninho, Sávio e Souza e Roberto Carlos- não conseguiam colocar em campo a alta classe de que são dotados.
Ora, time nenhum resiste a uma queda generalizada de todos os seus principais jogadores ao mesmo tempo.
O Brasil de Zagallo, porém, resistiu, até aqui. Graças a esse extraordinário arqueiro Dida, à serenidade e eficiência de Zé Maria e à estrela de Zagallo.
Resumindo: algo me diz que vai dar.
*
Na Copa de 74, quando aparecia um close do seu rosto, o locutor legendava com um toque de malícia: "Schoen..." E os alemães plantados em volta do aparelho de tv repetiam no mesmo tom: "Schoen..." E caíam na risada.
Schoen, em alemão, quer dizer qualquer coisa entre bonito e feliz.
E a imagem do velho treinador, que nos deixou há umas duas semanas, aos 80 anos, era exatamente o oposto: um carão cumprido, que se estendia ao infinito pela calva larga, os olhos de um azul triste que compunham uma expressão de atávica melancolia.
Nem bonito, nem feliz, mas poucos treinadores produziram tanta felicidade com um time -a Alemanha campeã de 74- que jogava tão bonito.
*
E Telê finalmente decidiu dar um tempo, como naqueles casamentos que começam a desabar depois de anos e anos de convivência.
Vai se afastar durante um bom período, sem remuneração, que ele não é homem de receber sem trabalhar.
E, quem sabe, um dia volte.
Não volta, não. Vai para Barcelona, recomeçar sua gloriosa carreira.
*
Pode ser que o Corinthians dê a volta por cima.
Afinal, tem camisa, história e um bom time, se todos os titulares puderem ser reunidos no campo.
Mas esse mal estar entre o técnico e a direção de futebol, por certo, está minando o Corinthians por dentro.
Para enfrentar a maratona de disputas que tem pela frente, o mínimo que esse clube deveria ter é união, em todos os setores. Técnico ameaçado de defenestração, cedo ou tarde, acaba fazendo besteira.

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