São Paulo, quarta-feira, 6 de março de 1996 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Pai Ubu choca os burgueses há cem anos
JOÃO BATISTA NATALI
O ubuesco é a caricatura da extravagância individual, colocada a serviço do poder exercido de forma grotesca. "Pai Ubu", o personagem criado pelo francês Alfred Jarry, foi assim bem mais que uma peça de teatro em que o malcomportamento virou padrão estético. Para os surrealistas e dadaístas, Jarry virou o modelo da irracionalidade. Para os anarquistas uma visão didática de todo e qualquer Estado e para a psicanálise o paradoxo perfeito da ordem sob a modalidade do caos. "Ubu", paródia de um clássico shakespeariano, "Lady Macbeth", é a história de um homem da corte instigado pela mulher a matar o rei e ocupar seu lugar no trono. Concluída a operação, o poder pode ser exercido como pura tirania. Um decreto permite o desmiolar dos juristas para afastar o superego do direito. Os impostos vão ao estratosférico para engordar a fortuna do novo rei. A vingança vem do príncipe legítimo, espécie de Hamlet, que sobreviveu ao massacre da família real. Aliado ao rei da Rússia, ele depõe o impostor, que por sua vez tem sua fortuna ilícita surrupiada por sua mulher. Jarry não foi o autor de uma peça só. Escritor de pobreza formal num "fin-de-siècle" prostiano, ele se tornou polemista, biógrafo e romancista, mas sempre motivado pela mesma iconoclastia destinada a "chocar os burgueses". A longevidade de Ubu demonstra o quanto ele foi bem sucedido. A remontagem do espetáculo pelo Ornintorrinco repete a direção de Cacá Rosset e sua atuação no papel título. O papel de Mãe Ubu, há 11 anos interpretado por Rosy Campos, está agora com Lúcia Barroso. Eduardo Silva substitui Chiquinho Brandão, morto em 1993. (JBN) Texto Anterior: Temporada de 96 começa só agora em teatros de SP Próximo Texto: Coluna Joyce Pascowitch Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |