São Paulo, quarta-feira, 6 de março de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cada mulher tem a estrada que escolhe

FERNANDA SCALZO
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois do sucesso de "Thelma & Louise", o cinema adorou a idéia de mostrar mulheres com o pé na estrada. Ainda bem, os "road movies" femininos são tão variados quanto podem ser suas protagonistas.
A idéia romântica de que a estrada representa a liberdade para você ser o que quiser dá frutos tão diversos quanto uva e abacaxi. "Camilla", filme com Jessica Tandy e Bridget Fonda, mostra a amizade entre uma senhora e uma jovem, as duas compositoras.
"O Beijo da Borboleta", com Amanda Plumer e Saskia Reeves, mostra o amor entre duas mulheres carentes e perturbadas. Este último é o abacaxi.
Romantismo
"Camilla" é um filme romântico a não mais poder e ficaria uma água com açúcar intragável não fosse a excelente Jessica Tandy. Ela interpreta a violinista Camilla, uma senhora sonhadora que vive com seu filho numa cidadezinha da Georgia, nos EUA.
O jovem casal canadense Freda (Bridget Fonda) e Vince (Elias Koteas) hospeda-se de férias na casa ao lado. Quando ainda mais jovens, eles eram hippies e felizes ("Você costumava me pintar nua tocando guitarra, lembra?", ela diz em uma das brigas do casal).
Agora passam por crises pessoais e profissionais. Vince largou a pintura para ganhar dinheiro como designer gráfico. Freda é uma compositora insegura que não consegue tocar em público.
As duas mulheres ficam amigas e resolvem largar marido e filho para viajar. Passam por todas as aventuras e desventuras que a ingenuidade de uma e a inexperiência da outra podem proporcionar.
O filho de Camilla, Harold, tem ataques de ansiedade ao perceber que sua mãe desapareceu. Ele é um bebê grande que trabalha como diretor de filmes pornográficos.
Camilla larga o marido porque ele insiste em dizer que a música dela é apenas um "hobby".
Começa então a tradicional viagem de autodescoberta e auto-afirmação. Bridget vai se inspirar em Camilla para reganhar sua confiança e vice-versa.
As mulheres sempre vivem soltas e felizes longe dos homens. Ainda que, no final, voltem a se acasalar.
Paranóia
Já em "O Beijo da Borboleta" a história é outra. O filme começa leve, com a protagonista andando para lá e para cá dizendo: "Esta sou eu, sou eu". O espectador em princípio não imagina a depressão em que será mergulhado.
A protagonista é Eunice, uma mulher atormentada e acorrentada (literalmente). Ela usa correntes de ferro amarradas no corpo para se punir. Sai andando à procura de Judith, personagem da Bíblia e da sua imaginação. Acaba encontrando Miriam, que trabalha numa lojinha num posto de gasolina.
Miriam mora com a avó velha e inválida. Nunca tinha namorado, amado, transado ou qualquer coisa que o valha. Toma para si a missão de salvar Eunice do mal.
Punição, missão, redenção, tudo é muito religioso e infernal no mundo das duas. Eunice é uma assassina psicopata. As duas seguem viagem em frente e vão deixando corpos para trás. Não deixa de ser um tipo de auto-afirmação.
"Mato pessoas e não acontece nada. Deus me esqueceu. Ele não me vê", grita Eunice em uma de suas crises paranóicas. Miriam, com calma, garante que não é bem assim, que Deus está atento a todos. Discussão infrutífera, é ela que conduz e amarra o filme.

Vídeo: Camilla
Produção: Inglaterra, 1994
Direção: Deepa Mehta
Elenco: Jessica Tandy, Bridget Fonda, Elias Koteas, Maury Chaykin
Lançamento: Paris Video Filmes (tel. 011/533-8300)

Vídeo: O Beijo da Borboleta
Produção: Inglaterra, 1994
Direção: Michael Winterbottom
Elenco: Amanda Plummer, Saskia Reeves, Freda Dowie Lançamento: Play Arte (tel. 011/575-6996)

Texto Anterior: Banda de Supla abre shows em São Paulo
Próximo Texto: "Duas Garotas..." usa clichês para desmistificar lesbianismo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.