São Paulo, quarta-feira, 6 de março de 1996
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Terapia de grupo usando rede de computadores tem regras próprias

MARINA MORAES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

A moda agora é ser ciberanalisado. Fazer terapia via computador.
Na linha da filosofia que fundou a AAA, Associação dos Alcoólatras Anônimos, de que ninguém está mais bem equipado para ajudar um alcoólatra do que outro alcoólatra, outros tantos grupos de apoio estão se formando -agora, em torno do computador.
Na verdade, a estrutura da análise de grupo é facilmente adaptável ao universo on line.
Basta reproduzir em uma rede de computadores o que acontece na sala do terapeuta, onde várias pessoas discutem seus problemas sob a supervisão de um profissional.
Os grupos instalados na Internet reúnem gente com toda sorte de complicações -pessoais, sociais e médicas-, que trocam figurinhas variadas, de depressão a divórcio.
Questões médicas, como câncer na próstata, esclerose múltipla ou deficiência renal, são ativamente discutidas entre portadores dessas doenças e também entre especialistas e pesquisadores, atrás de qualquer pista nova na área.
Recentemente, quando o medicamento BetaSeron foi aprovado para o tratamento da esclerose múltipla, um número gigantesco de pessoas contatou o grupo de discussão alt.support.multiple-sclerosis para obter dados sobre os benefícios e contra-indicações da droga.
Em um grupo formado por deficientes físicos, a terapia é voltada exclusivamente para um aspecto da vida dessas pessoas: o da realização sexual.
O grupo trabalha um problema dificilmente abordado fora do ciberespaço. Sexo já é uma coisa complicada de discutir em grupo. Somado a isso, há a dificuldade de locomoção dos deficientes. Via Internet, os participantes contam dificuldades e progressos sem constrangimento nem desconforto.
Pesquisas indicam que os frequentadores de terapia on line costumam "passar" pelo grupo pelo menos uma vez por dia. Parte deles faz contato várias vezes ao dia.
Os números mostram que os participantes de grupos de apoio a quem está fazendo dieta para emagrecer têm uma tendência maior em procurar a rede diversas vezes, como forma de evitar as "tentações" e a depressão.
A maior parte das terapias em grupo via computador é feita com um coordenador, o que significa que alguém é encarregado de ler todas as mensagens antes de lançá-las na Internet.
Como em qualquer outra forma de tratamento terapêutico, as sessões virtuais têm regras próprias, e o participante tem de respeitá-las.
Uma é não invadir o anonimato alheio. Outra é não falar mais do que o necessário para não cansar os outros. E, se a solidão for muito grande, tentar dividir o discurso entre o computador e o telefone.

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