São Paulo, quarta-feira, 6 de março de 1996
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O HUMOR DE FHC

Começam a surgir sinais de que o humor do presidente Fernando Henrique Cardoso já não é o mesmo. Até o início do ano, ele demonstrava nitidamente que estava de bem com a vida, um corolário natural de sua tese de que é fácil governar o Brasil.
Se, agora, o estado de ânimo está mudando, é razoável deduzir que Fernando Henrique já não ache tão fácil assim conduzir o país.
De fato, nos últimos meses, o governo parece ter perdido a iniciativa e passado mais a reagir a fatos externos do que a agir.
A crise do Banco Econômico, em agosto passado, parece ter sido o ponto de inflexão. Até então, FHC comemorava uma vitória atrás da outra, na forma da aprovação das reformas constitucionais relativas à Ordem Econômica. Festejava, igualmente, uma inflação persistentemente baixa, acoplada a um ritmo de atividade econômica no mínimo satisfatório.
A crise do Econômico coincidiu com a desaceleração da economia, embora, em termos de inflação, fevereiro ofereça razões para celebrar, com o magérrimo 0,4% registrado.
Mas, nas outras frentes, só se avolumaram problemas. Ao caso Sivam seguiu-se a crise do Banco Nacional, ao passo que as reformas constitucionais de fato relevantes (a previdenciária, a administrativa e a tributária) entravam em compasso de espera.
Tudo somado, portanto, sobram razões para que o presidente perca -e o demonstre- pelo menos parte do bom humor que foi uma das marcas de seu primeiro ano de governo.
Não há a rigor nada de intrinsecamente ruim nesse fato. O bom humor inicial era exagerado, em face do tamanho dos desafios que o governo e o país têm pela frente. Se o presidente não exagerar também no mau humor, a ponto de tornar-se uma reedição do general João Baptista Figueiredo, que contava até os minutos para deixar o Planalto, talvez tenha encontrado o meio termo mais adequado à realidade.

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