São Paulo, sexta-feira, 8 de março de 1996
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Salário faz Hélio Luz pedir demissão

CLÁUDIA MATTOS
RONI LIMA

CLÁUDIA MATTOS; RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

Chefe da Polícia Civil do Rio quer entregar cargo devido à remuneração dos policiais; secretário tenta convencê-lo a ficar

O chefe da Polícia Civil do Rio, delegado Hélio Tavares Luz, está demissionário. Sua decisão de deixar o cargo se deve a duas reivindicações não atendidas pelo governo estadual: o pagamento do tíquete-refeição aos policiais, que não é repassado há dois dois meses, e um aumento de 53% para a categoria, pendente desde maio do ano passado.
Por meio de um assessor, Luz declarou que entregará sua carta de demissão hoje. Ele está há oito meses na chefia da Polícia Civil.
O chefe de polícia passou o dia de ontem recolhido em sua casa, em Friburgo (região serrana a 150 km ao norte do Rio), e se negou a dar entrevistas.
O secretário da Segurança, Nilton Cerqueira, disse que ainda tentará demovê-lo da idéia.
Cerqueira falou com Luz no fim da tarde de ontem e pediu uma reunião com o delegado, antes que ele anuncie sua decisão final.
Ao telefone, Cerqueira chegou a brincar com Luz, perguntando se ele seria capaz de dar tamanha alegria ao prefeito César Maia (PFL), crítico do trabalho do chefe de polícia. A resposta foi uma gargalhada.
Sindicato
O Sindicato dos Funcionários da Polícia Civil está acusando o governo estadual de derrubar Luz. Segundo Gemerson Henrique Dias, 57, presidente do sindicato, o governador Marcello Alencar (PSDB) jogou o delegado contra a categoria.
"Uma das conquistas do Luz foi a implantação do tíquete-refeição em substituição às quentinhas (marmitas), que antes eram distribuídas aos policiais. Só que há dois meses o governo não repassa o tíquete", disse.
Quando implantou o uso de tíquete, Luz disse que estava "fechando um ralo de corrupção", pois havia superfaturamento no contrato de fornecimento das quentinhas.
Segundo Dias, os tíquetes, no valor de R$ 100,00 mensais, significam um aumento médio de 25% nos salários dos policiais.
Outro ponto de atrito apontado por Dias é o não-pagamento do aumento de 53,8% para os policiais. O aumento, devido desde maio do ano passado, até hoje não foi pago. O governo alega não ter caixa para pagar o aumento.
Há um mês, em uma reunião, Alencar teria cobrado mais resultados da ação da polícia para conceder o aumento.
Esta semana, após a prisão de Jorge Luís dos Santos e Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê, criminosos mais procurados do Rio, Luz teria cobrado do governador o pagamento do reajuste. Alencar voltou a dizer que não tinha dinheiro.
"Se Luz tomar a decisão de sair, vai ser ruim, mas, se ele decidir ficar sem resolver essas questões, vai ser duas vezes pior", afirmou Dias.

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