São Paulo, sexta-feira, 8 de março de 1996
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Magalhães Pinto

JOSÉ SARNEY

Em 1958 a UDN realizava em São Paulo sua Convenção Nacional para eleger o substituto do general Juracy Magalhães, seu presidente. A disputa era entre Herbert Levy e Magalhães Pinto. Por trás dela estava a sucessão presidencial.
Juscelino manobrava nos bastidores para fazer um candidato que derrotasse Jânio e sonhou com uma aliança do PSD com a UDN, em torno do general Juracy, que logo mordeu a isca e passou a defender uma candidatura partidária, isto é, dele mesmo.
A convenção da UDN estava dividida e Magalhães Pinto, sendo o candidato a presidente da UDN, encarnava a chapa de apoio a Jânio para levá-lo à presidência com Jânio Quadros.
Nessa convenção aproximei-me de Magalhães Pinto. Havia um elo entre nós, muito forte, por meio de Odylo Costa, filho, meu irmão de vida.
Herbert Levy fez distribuir sua biografia aos convencionais. Era uma apologia à força de São Paulo e sua tradição. Paulista quatrocentão, genro de Valdemar Ferreira, ligado ao jornal "O Estado de S.Paulo", Magalhães Pinto chamou-me, a Otto Lara Resende, Aluísio Alves, Odylo Costa, filho, e José Aparecido para providenciarmos urgente uma biografia sua, a ser distribuída aos convencionais.
Com aqueles olhos que diminuíam quando ele tinha na cabeça uma boa esperteza política recomendou-nos: "Biografia de gente simples, modesta...".
Numa suíte do Hotel Excelsior, com uma máquina arrumada às pressas, começamos a tarefa. Odylo fez a primeira frase: "José de Magalhães Pinto, operário de si mesmo". E acrescentei: "Filho de modesta professora de Santo Antônio do Monte".
Otto Lara contribuiu: "Bancário, iniciou sua vida como contínuo do Banco Hipotecário e Agrícola de Minas Gerais, homem simples", e Aparecido acrescentou: "Assinou o Manifesto dos Mineiros contra a ditadura Vargas", e todos participamos: "É a mais representativa expressão da vida pública de Minas Gerais: humilde, sóbrio, equilibrado, prudente e com o mais alto espírito público". Aquela biografia fez um sucesso. Herbert Levy, bom companheiro, também grande nome, era o gigante, Magalhães, o Golias.
Magalhães era mestre da sabedoria política. A ela se atribuíam muitas frases, inclusive uma que era de Antônio Carlos Andrada: "A política é como uma nuvem". Mas falava por provérbios.
Lembro-me de dois conselhos que me deu: "A gente nunca se arrepende de uma coisa que não fez". E outro, quando fui incluído numa chapa, na convenção da UDN de Curitiba, como subsecretário. Chamou-me a um canto e aconselhou-me: "Jamais aceite qualquer cargo que tenha sub no nome".
Foi um homem exemplar: para com o país, para seus amigos e de ilibada conduta pessoal e pública.
Quando arriscou tudo e entrou na Revolução de 64 seu pensamento era o de que estava conjurando um golpe que evitava o debate democrático.
Lembro os gregos que diziam: "Nunca diga que é feliz, sem saber o seu fim". Há dez anos, Magalhães perdera a saúde e a felicidade.

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