São Paulo, sábado, 9 de março de 1996
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Presidente da Funai pede demissão

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio), Márcio Santilli, pediu demissão anteontem.
Ele deixa o cargo a 15 dias do embarque do ministro Nelson Jobim (Justiça) para uma viagem à Europa para explicar em quatro países o polêmico decreto (1.775) da demarcação das terras indígenas.
A demissão de Santilli deve ser publicada na edição de hoje do "Diário Oficial" e foi entregue a Jobim em caráter irrevogável.
Nem o ministério nem a Funai explicaram até o fechamento desta edição o motivo da demissão.
A Folha apurou que Santilli vinha sofrendo pressões muito fortes das ONGs (organizações não-governamentais) contra o novo decreto das demarcações.
Ele próprio dirigia uma ONG (Instituto Socioambietal), uma das maiores do país envolvida com o problema indígena, antes de assumir a Funai em setembro.
Outro motivo que pode ter contribuído para a sua demissão foram os desentendimentos com funcionários da fundação envolvidos em exploração de madeira e garimpagem em reservas indígenas.
O decreto 1.775 permite a revisão das áreas indígenas já demarcadas. Dá direito a que as partes envolvidas (fazendeiros, Estados, etc.) nos processos de demarcação contestem as decisões da Funai. Suicídio Uma das últimas decisões de Santilli foi definir envio de interventor para a reserva indígena de Dourados, em Dourados (219 km de Campo Grande-MS).
Desde a última segunda-feira, 24 índias guaranis-caiuás ameaçam suicídio coletivo caso o líder indígena Atanásio Cabreira permaneça no cargo. O problema foi levado à Funai pelo vice-líder da aldeia, Narciso Daniel.
A decisão do órgão de mandar um interventor foi tomada após notificação feita pelo procurador da República em Mato Grosso do Sul, Luiz de Lima Stefanini.
"A situação na aldeia é tumultuada e só será resolvida com o afastamento dos dois líderes. Parece que há um confronto político entre ambos. Não é preciso que as índias comecem a morrer que se faça algo", afirmou Stefanini.
Segundo denúncias de Narciso Daniel à Funai, Cabreira teria estuprado algumas mulheres da aldeia, mantido outras em cárcere privado, forçado crianças a trabalho pesado e permitido a venda de bebida alcoólica e drogas na reserva.
O delegado da Polícia Federal Lázaro Moreira da Silva, que investiga o caso desde segunda-feira, disse não ter encontrado até ontem qualquer pessoa na reserva que admitisse ter sido violentada.

Colaborou a Agência Folha, em Campo Grande

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