São Paulo, sábado, 9 de março de 1996
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Filho diz que matou o pai por acidente

ANTÔNIO ROCHA FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O engenheiro agrônomo Frederico Vanetti de Araújo, 33, confessou ter matado, acidentalmente, seu pai, Ney Bittencourt de Araújo, 59, no dia 14 de janeiro.
A nova versão para a morte do empresário, que era dono da Agroceres, foi dada em interrogatório ao delegado Ivaney Cayres de Souza, do 78º DP, em São Paulo, anteontem à noite.
Segundo a polícia, Frederico teria chegado em casa e encontrado o pai com a arma apontada em sua própria direção. Ao tentar tomar o revólver, teria ocorrido o disparo.
A promotora Eliana Passarelli acompanhou o interrogatório. A confissão foi gravada.
Na fita, o engenheiro afirma ter pego a arma do pai e aconteceu o disparo. Logo depois do crime, ele tinha dito ter encontrado o pai já caído. A polícia levantou a hipótese de ter ocorrido um acidente ou suicídio.
O advogado do engenheiro, Gontran Simões, disse estar surpreso com a versão, que, segundo ele, "foi obtida de maneira antiética pelo delegado".
"Depois que os advogados foram embora, o delegado e a promotora, prometendo relaxar a prisão, fizeram-no confessar. Isso é um abuso."
Ontem à tarde o acusado foi interrogado formalmente pelo delegado, dessa vez perante seus advogados. Orientado por Simões, o engenheiro disse que só vai falar diante do juiz. A todas as perguntas, ele dava a mesma resposta, que só falará diante do juiz. O depoimento durou cerca de duas horas.
O delegado diz ter o direito de ouvir o acusado "a qualquer momento em busca da verdade", e que não poderia ficar chamando o advogado a cada cinco minutos.
Segundo Caires de Souza, as provas materiais mostram que o acusado deu o tiro que matou o empresário.
Exames
Exames residuográficos feitos pelo Instituto de Criminalística mostram vestígios de metais nas mãos do acusado compatíveis com a bala que matou Araújo.
Os mesmos exames realizados na vítima e no porteiro do prédio descartam a hipótese de suicídio ou da participação de outra pessoa no crime.
O delegado vê ainda várias contradições nos depoimentos de Frederico.
A promotora afirma que a fita não vale como prova, mas pode servir como indício.
O advogado vai pedir a transferência do acusado para uma prisão especial, já que ele tem curso superior. Segundo ele, a fita faz a investigação da polícia perder seu valor, pois foi obtida de forma ilegal.
Segundo o advogado, Frederico não tinha interesse em matar o pai. "Ele era o filho que mantinha melhor relacionamento com o pai." Segundo o advogado, o empresário estava comprando um apartamento para Frederico em Rio Claro. "A situação de Frederico era melhor com o pai vivo. O empresário tinha apenas 40% das ações da holding Agroceres. Com a morte sobraria apenas 13% para Frederico", disse.

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