São Paulo, sábado, 9 de março de 1996
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Hélio Luz recua e não pede demissão

DA SUCURSAL DO RIO

O chefe da Polícia Civil do Rio, delegado Hélio Luz, 50, recuou de sua anunciada decisão de se demitir. Em meio a uma manifestação de apoio pela sua permanência, de cerca de cem policiais, ele disse que permaneceria no cargo.
Para sua permanência, Luz disse que vai exigir a implantação um sistema de administração da polícia que ele chamou de "de autogestão".
Ele reivindicou que o atual Conselho Superior de Polícia seja eleito por toda a categoria.
Órgão formado por diretores de departamento da Polícia Civil, o conselho ajuda a administração do chefe da polícia, estabelecendo por exemplo diretrizes de trabalho e promoções de agentes.
Luz defendeu que este conselho seja eleito por todos os agentes da polícia, e não somente por delegados, como hoje.
"Se houver esse sistema de autogestão, eu fico", disse, para jornalistas, no prédio onde funciona a sede da Polícia Civil.
Política
Anteontem, quando Luz divulgou a notícia de que pedira demissão "em caráter irrevogável", comentava-se na Secretaria de Estado da Segurança Pública que ele estava tentando uma jogada política.
Luz teria dois objetivos: angariar simpatias junto a policiais -já que ele é muito criticado pelos ataques que faz à chamada "banda podre" da polícia- e conseguir do governo aumento salarial e outros benefícios para a categoria.
O delegado havia marcado um encontro ontem à tarde, com o secretário da Segurança Pública, general Nilton Cerqueira, para apresentar sua carta de demissão. Cerqueira, porém, não foi ontem à Secretaria.
Luz, por sua vez, voltou de Nova Friburgo, cidade serrana onde mora, e foi direto para seu gabinete, no prédio da chefia da Polícia Civil. Há dias, já estava marcada ali uma reunião entre ele e policiais da operação Astra.
Policiais da Astra prenderam, em Fortaleza, o traficante Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê. Alguns são considerados integrantes da "banda podre". Ao chegar no prédio, cerca de cem policiais cercaram Luz.
Choro
Eles pediram para que Luz ficasse. Sirenes de carros foram ligadas. Em meio a palmas, policiais -como o diretor da Polinter (Polícia Interestadual), Pedro Paulo Pinho- chegaram a chorar. "Se o senhor sair, a polícia acaba", disse.
Com olhos marejados, Luz manifestou sua intenção de ficar, sob condições. Diante da mobilização por sua permanência, ele teria afirmado para policiais que poderia ficar, por não se tratar mais de "algo pessoal".
À tarde, o Palácio Guanabara divulgou nota em que o governo do Estado desmentia "categoricamente" que tivesse havido qualquer acordo entre o governador Marcello Alencar (PSDB) e Luz para o aumento dos salários dos policiais.
A suposta quebra deste acordo foi um dos argumentos usados por Luz para anunciar sua demissão.

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