São Paulo, sábado, 9 de março de 1996
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'Matei 70 bósnios', afirma ex-soldado

Sérvio relata massacres

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Em entrevista ao jornal francês "Le Figaro", o ex-soldado do exército sérvio da Bósnia Drazen Erdemovic disse que matou "pessoalmente" cerca de 70 pessoas na cidade bósnia de Srebrenica.
"Tentei matar o menos possível", disse Erdemovic, um bósnio de origem croata. Quando Srebrenica caiu para os sérvios, cerca de 8.000 muçulmanos desapareceram.
O ex-combatente foi preso sábado passado pelas autoridades sérvias horas após conceder a entrevista, em Becej (Sérvia). Ele decidiu testemunhar após ser ferido e expulso do grupo.
A agência iugoslava de notícias "Tanjug" disse que a prisão de Erdemovic faz parte de uma investigação sobre crimes de guerra.
Segundo ele, as execuções ocorriam em Pilica durante o dia todo, e a maioria das vítimas eram homens. Chegavam em grupos de 300, distribuídos em cinco ônibus.
"Os motoristas ficaram horrorizados, mas foram obrigados a matar pelo menos um muçulmano. Assim não poderiam denunciar o episódio", disse.
"Muitos dos muçulmanos imploraram para não serem mortos, outros nos prometiam dinheiro, alguns nos insultaram e muitos rezavam baixinho."
Segundo Erdemovic, um dos comandantes disse que havia usado 700 balas em um dia.
"O comandante e amigos estavam bebendo. Pareciam loucos. Eles batiam nos muçulmanos com barras de ferro e quando estes caíam, nos forçavam carregá-los e executá-los."
Os soldados tinham de usar metralhadoras para matar mais rápido, segundo o ex-soldado. "Mas não éramos profissionais, e os muçulmanos ficavam só machucados. Eles nos imploravam para que acabássemos logo com eles", disse Erdemovic.
Ontem, o Tribunal da ONU para Crimes de Guerra na ex-Iugoslávia, em Haia (Holanda), emitiu ordem de prisão contra o líder dos sérvios na Croácia, Milan Martic, por ter ordenado ataques à bomba em Zagreb, capital croata, em 95.

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