São Paulo, domingo, 10 de março de 1996
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Escolha de candidato racha o PT em SP

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

A 14 dias da prévia que escolherá o candidato do PT que vai disputar a prefeitura paulistana, Luiza Erundina e Aloizio Mercadante, os dois nomes com chances de vitória, estão em pé de guerra.
Aliados dos dois pré-candidatos admitem reservadamente que o partido entrou num processo autofágico, com diversas acusações pessoais de lado a lado. Todos concordam ser cada vez mais improvável que o derrotado se incorpore à campanha eleitoral do companheiro de partido, apesar das declarações públicas em contrário.
Os debates que os pré-candidatos vêm fazendo durante os fins-de-semana têm servido como amostra parcial do clima de inimizade que tomou conta do partido.
A divisão interna já atingiu diretamente a terceira pré-candidata do PT, a vereadora por São Paulo Tereza Lajolo, sem nenhuma chance de vitória na prévia.
Aliados de Erundina afirmam que Lajolo teria feito acordo com Mercadante e só aceitou entrar na disputa na última hora para barrar o crescimento da ex-prefeita.
Lajolo, que foi secretária dos Transportes de Erundina no primeiro ano de sua gestão e saiu do governo após brigar com a ex-prefeita, não aceita a crítica.
"Querem negar a liberdade de expressão e de posicionamento dentro do partido. Não existe acordo nenhum, é absurdo", diz.
Defensora das prévias, Lajolo sustenta que é preciso fazer agora o debate político dentro do PT.
Segundo ela, sua pré-candidatura foi "induzida por militantes do partido". A vereadora está sendo apoiada pelas correntes mais à esquerda do PT, como o grupo trotskista O Trabalho, sem representatividade eleitoral.
Muito do acirramento de ânimos se deve ao equilíbrio da disputa. Luiz Inácio Lula da Silva disse que não se manifesta a favor de nenhuma pré-candidatura em São Paulo. A Executiva Nacional do PT, órgão interno que reúne a cúpula da burocracia do partido, com 21 membros, está dividida.
Na Câmara Municipal da capital, há equilíbrio. Dos 13 vereadores petistas, 6 estão com Erundina, 6 apóiam Mercadante e Lajolo defende a sua própria candidatura.
Nas entrevistas que seguem, feitas separadamente, Erundina e Mercadante mostram discurso muito parecido quando se trata de atacar a gestão de Paulo Maluf ou o suposto neoliberalismo do governo Fernando Henrique Cardoso.
As diferenças surgem quando um se refere ao outro. Frio e preocupado em chamar a adversária de "companheira", Mercadante solta farpas quando diz que Erundina tem alta taxa de rejeição.
Menos alusiva quando se refere ao rival, a ex-prefeita diz que Mercadante é "muito pretensioso e autoritário".

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