São Paulo, domingo, 10 de março de 1996
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Kuaitiano deixa o islamismo, torna-se cristão e é processado

The Independent
de Londres

ANDREW BROWN

Com uma Bíblia na mão e um crucifixo pendurado no pescoço, Qambar Ali, 45, compareceu na semana passada perante um tribunal kuaitiano, acusado de converter-se do islamismo ao cristianismo.
Se for condenado, Ali perderá alguns de seus direitos civis, o mais importante dos quais a expectativa de que, no caso de ser morto, seus assassinos sejam procurados e punidos pelo crime.
Sob a lei islâmica, se um muçulmano em sã consciência renunciar a sua religião e recusar-se a expressar arrependimento pelo ato, qualquer outro muçulmano que vier a matá-lo por considerar que cometeu apostasia não sofrerá qualquer penalidade.
Se Qambar Ali for considerado culpado de apostasia, também perderá seus direitos de herança, o direito de ser casado com uma mulher muçulmana e a guarda dos seus dois filhos.
A processo movido contra ele é de âmbito particular. Mohammed al Jadai, um dos três promotores, disse ao tribunal: "Acreditamos no cristianismo, mas não permitiremos que Ali fira os sentimentos de muçulmanos".
"Ele provocou a ira de muçulmanos contando aos jornais sobre sua conversão e distorcendo a imagem do Islã", afirmou Al Jadai.
O advogado afirmou que, se o tribunal quiser um precedente, poderá estudar a decisão tomada no ano passado por uma corte do Cairo de pôr fim ao casamento feliz do professor universitário egípcio Nasser Abu Zeid, sob a acusação de apostasia, embora o professor tenha negado a acusação.
Ali confirmou perante o tribunal kuaitiano que é um cristão convertido, mas disse que o tribunal não tem jurisdição para julgar seu caso.
Ele pediu que o processo seja encaminhado a uma corte constitucional, alegando que a Constituição kuaitiana garante a liberdade religiosa e pessoal. A conversão contribuiu para o fim do casamento de Ali, ocorrido no ano passado.
Ali contou que muda de casa frequentemente por medida de segurança, que não pode mais trabalhar e que não vê seus filhos há cinco meses porque sua família se opõe a sua conversão. Ele disse que comunicou sua conversão aos jornais para divulgar a recusa de sua mulher em permitir que visite seus filhos, de 6 e 4 anos. Essa recusa foi considerada ilegal por Ali.
No dia 17 de abril os juízes decidirão se têm competência para ouvir outras sessões do processo. Se julgarem não ter, o processo será enviado à corte constitucional.

Tradução de Clara Allain

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