São Paulo, segunda-feira, 11 de março de 1996
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Bancos temem falta de dinheiro com CPI

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado financeiro inicia a semana à beira de um ataque de nervos. Teme-se, em alguns círculos de banqueiros de porte pequeno e médio, que a CPI dos bancos e as investigações sobre novas fraudes bancárias desemboquem numa crise de liquidez semelhante à ocorrida em 1994.
Naquela época, vários bancos com problemas foram liquidados pelo BC ao sentirem o aperto de liquidez provocado pelo Plano Real e pelos boatos envolvendo os bancos Econômico e Nacional.
Crise de liquidez, no caso, é a falta de recursos no mercado interbancário, no qual os bancos emprestam dinheiro uns para os outros para terminarem o dia com o caixa zerado (com ativos iguais a passivos). A crise ocorre quando os bancos com excesso de caixa cortam o crédito dos menos líquidos.
O dinheiro que sobra vai parar nos cofres do BC e os bancos apertados acabam pedindo socorro à autoridade monetária.
Dinheiro mais caro
"A CPI pode prejudicar os clientes dos bancos, pois eles poderão até pagar mais caro pelo dinheiro se houver uma aperto de liquidez interna ou restrição dos credores externos", afirma Maurício Schulman, presidente da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos) e do conselho de administração do Bamerindus.
Lá fora, a retração já começou. Na semana passada, o Banco Pontual adiou o lançamento de um eurobônus de US$ 75 milhões, pois o custo de captação disparou. Operações de outros bancos também foram adiadas.
Aqui, o fenômeno pode se agravar se o barulho em torno dos bancos aumentar.
Pedro Conde, dono do Banco BCN, lamenta o efeito da CPI sobre o mercado de CDI (certificados de depósitos interfinanceiros).
"O mercado financeiro é muito sensível. No interbancário, praticamente ninguém quer emprestar dinheiro para ninguém", diz Conde, cujo banco é doador no CDI.
Tiroteio
O vice-presidente financeiro do Itaú, Olavo Bueno Júnior, observa que o mercado está nervoso.
"Quando há tiroteio na floresta, os bancos sempre ficam mais retraídos e a periferia do mercado sofre. Alguns bancos pequenos com os quais não trabalhamos nos procuraram nos últimos dez dias em busca de dinheiro. Pode ser um sinal de que está faltando recursos em suas fontes habituais", afirma.
Mas acha que o interbancário está longe de uma crise como a de 94.
O Itaú, um dos maiores doadores de recursos no CDI, está com um excesso de caixa difícil de repassar. "Para os que querem mais dinheiro, nós não damos. Para quem queremos dar, não precisam."

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