São Paulo, segunda-feira, 11 de março de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Visita a Stanford é gesto de gratidão

MARCELO RUBENS PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Duas razões levam o presidente Fernando Henrique Cardoso a estender sua visita à Universidade de Stanford, hoje: a queda do interesse pelo Brasil no meio acadêmico norte-americano e os amigos fiéis.
Inaugurar uma cátedra de estudos brasileiros financiada pelo Banco Safra, na universidade em que deu aula em 1977, é o gesto de FHC para brecar a marginalização do Brasil no meio acadêmico.
A reitoria da Universidade de Stanford, cujo departamento de língua portuguesa perdeu recentemente dois dos seus três professores, chegou a propor a extinção do departamento. Outras universidades o fizeram.
Até mesmo Philip Schmitter, cientista político e amigo de FHC, que no passado pesquisava a transição brasileira, mudara o foco de suas pesquisas para a Europa.
A eleição de FHC reverteu a tendência de legar o Brasil ao esquecimento. Seus colegas se mobilizaram. Schmitter e grupo de pesquisadores da Califórnia criaram o Grupo de Estudos Brasileiros.
"Nos anos 60, foram criados nos Estados Unidos os departamentos de Espanhol e Português e os Centros de Estudos Latino-americanos, refletindo um interesse pela América Latina. Estamos tentando reverter a tendência de voltar ao esquema antigo."
Para o cônsul em San Francisco, João Almino, os estudantes que têm contato com a língua e a cultura brasileira acabam desenvolvendo laços, necessários para diluir a imagem "estereotipada negativa" das últimas décadas.
Fernando Henrique sabe que as universidades americanas influenciam as decisões da Casa Branca; os assessores para a política externa dos Estados Unidos são oriundos dos departamentos de ciência política das universidades.
Sua amiga Terry Kal, professora de Stanford, foi quem negociou, em nome do governo americano, a transição da guerra civil de El Salvador. As equipes que preparam as agendas do processo de paz do Oriente Médio e dos Bálcãs são compostas por acadêmicos especialistas no assunto.
Em 94, um mês antes de tomar posse, FHC reuniu-se, em Brasília, com algumas figuras de expressão do mundo acadêmico.
Expôs seu projeto de levar o Brasil a um lugar de destaque no cenário mundial e pediu colaboração. Seus amigos de Stanford atenderam ao pedido. Hoje, são recompensados com a visita de agradecimento do presidente.

Texto Anterior: Presidente tenta atrair investimento
Próximo Texto: Avião chega 1 h antes da saída de Clinton
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.