São Paulo, segunda-feira, 11 de março de 1996 |
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O preço do Nacional
LUÍS NASSIF Na sexta passada, a coluna defendeu mais uma vez a tese de que o Banco Central recorreu à melhor técnica para a venda do Nacional -vendendo apenas a parte boa para, com os recursos amealhados, compensar os prejuízos da parte má.A questão relevante -salientava a coluna- não era questionar o processo em si, mas analisar se o preço pago pelo Unibanco pela parte boa do Nacional foi adequado ou não. Formação de preço, em geral, é processo complexo, principalmente nas circunstâncias em que se deu a venda do Nacional. De qualquer modo, há alguns princípios básicos, nos quais é possível se basear para uma avaliação mais técnica do processo. Em relação ao banco comercial, o Unibanco pagou um ágio de R$ 300 milhões para absorver R$ 6,4 bilhões em ativos (crédito a receber) e passivos (contas de correntistas) do Nacional. Ou seja, uma conta zero. Com o dinheiro a receber dos devedores, ele garante o saldo dos credores. De seu lado, o Unibanco garantiu a liquidez para os correntistas do Nacional, até que os créditos sejam cobrados. Se não assumisse esse encargo, o BC teria de proceder à liquidação do banco e os correntistas teriam seu dinheiro bloqueado. No fundo, o Unibanco pagou pelo quadro de correntistas, de agências funcionando e de quadros técnicos do Nacional, que aumentaram substancialmente seu tamanho. Sem "goodwill" Em relação ao banco comercial, é difícil avaliar se o preço pago foi barato ou caro -principalmente porque não havia outro candidato a comprador. Mas na compra dos demais ativos -empresas sadias pelas quais o Unibanco pagou R$ 700 milhões-, os critérios utilizados não foram favoráveis ao BC. E foi a polêmica em relação ao primeiro tema -o processo de venda em si- que alertou a coluna para uma inconsistência séria da operação. O Unibanco pagou o Nacional com recursos próprios, sem nenhuma espécie de ajuda do governo. Mas o preço pago pelas demais empresas do grupo foi calculado tomando por base seu patrimônio líquido. Essa conta é adequada no caso de liquidação de empresas. Ou seja, se fechar a empresa, somando tudo o que ela tem a receber menos tudo o que ela tem a pagar, chega-se ao patrimônio líquido. Ocorre que o Unibanco recebeu muito mais: empresas funcionando, com clientela estabelecida, corpo técnico eficiente, sistemas de computação, marketing consolidado e por aí afora. Esse "goodwill" -como se diz no jargão dos negócios- não foi levado em conta na fixação dos preços dessas empresas. Pode-se argumentar que a pressa em resolver a questão impediu uma negociação mais acabada. Ou que o valor dessas empresas entrou como contrapartida para a assunção dos passivos do Nacional. Seja lá como for, é por aí que deve se concentrar uma análise técnica mais criteriosa sobre a operação de venda da parte boa do Nacional. Texto Anterior: A crise habitacional é a crise do Brasil Próximo Texto: Custo e margem são problemas Índice |
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