São Paulo, segunda-feira, 11 de março de 1996
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Sepultura sobe em trio elétrico em 97

CÉLIA ALMUDENA
DA REPORTAGEM LOCAL

O novo disco do Sepultura, "Roots", lançado há duas semanas, é uma boa surpresa pois traz um molho percurssivo inimaginável em uma banda de metal.
Ao lado do som tradicionalmente pesado do grupo, há a presença de Carlinhos Brown e de uma tribo de índios xavantes.
E a influência de Brown parece ter permeado várias das faixas do disco, mesmo aquelas em que ele não participa.
A Folha pediu a Brown e ao baterista Igor Cavalera que fizessem perguntas um para o outro. O resultado desse "encontro" você confere abaixo.
*
Igor Cavalera - Qual o primeiro instrumento que você tocou?
Carlinhos Brown - Lembro claramente que foram latas e baldes. Depois comecei a fazer uns violões com latas de sardinha e restos de cordas de violão.
Igor - Você faz alguma preparação especial antes dos shows?
Brown - Tenho uma preparação espiritual. Geralmente invoco as forças da realidade, da beleza, da vitalidade, do encontro, da positividade, da vida em comum, da paz.
Igor - Ainda está de pé o Carnaval do Sepultura na Bahia em 87?
Brown - De rocha. Isso aí a gente está esperando desde este ano, mas ano que vem a gente faz. Ano que vem vamos fazer Sepultura e Timbalada em um trio elétrico e vai dar rock'n'roll no Carnaval.
Igor - O que é preciso pra ser um timbaleiro?
Brown - Só gostar de música. Não precisa ter noção porque lidamos com música virgem. Quanto mais o cara é inocente na música, melhor, porque ele não tem vícios.
Brown - Em qual esquina do Brasil a sua bateria se depara com o som do Olodum?
Igor - Em qualquer esquina do mundo, não só do Brasil. É uma influência forte que tenho de quando era molequinho e já tocava samba, ia em jogo de futebol do Palmeiras com meu irmão. Antes de descobrir rock, o contato que tive com música foi com samba e batucada de torcida. Batuque é uma coisa muito forte pra mim, mais do que qualquer banda de rock. É mais energético.
Brown - De onde você herdou o espírito tribal de tocar, do pai ou da mãe?
Igor - Da mãe, a música vem dos dois. Da mãe vem o lance de índio, a bisavó dela era a primeira geração que estava aprendendo a falar português. Então o lance tribal, do índio, vem dela. Do meu pai vem o lance de uma abertura musical muito grande, a gente cresceu ouvindo milhares de estilos de música. Ia desde clássico a música italiana. Essa mistura ajudou a ter uma cabeça aberta hoje.
Brown - Mande uma resposta para os preconceituosos do Brasil que acham que os estilos musicais não podem se misturar.
Igor - A pessoa que é muito radical acaba se ferrando. Acho que toda pessoa que é muito radical acaba tropeçando na língua.
Brown - Por que Sepultura?
Igor - Quando eu e o Max tínhamos uns 13 ou 14 anos ficávamos traduzindo músicas. Aí traduzimos uma música do Motorhead, "Dancing on Your Grave" (dançando na sua sepultura), e pensamos: sepultura, esse nome é legal. Começamos a falar para as pessoas e ela ficavam chocadas. Quanto mais a gente chocava, mais achávamos legal.

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