São Paulo, segunda-feira, 11 de março de 1996
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Arte/Cidade faz paralelo SP/Berlim

Projeto aproxima Brás e Mitte

KATIA CANTON
ESPECIAL PARA A FOLHA

A quarta edição do projeto Arte/Cidade, que deverá acontecer em 97, traz um marco nas discussões artísticas e arquitetônicas sobre São Paulo. Pela primeira vez o projeto vai articular paralelos entre o Brás, bairro da região central de São Paulo, e o Mitte, do subúrbio de Berlim.
Já batizada de "Brasmitte", a edição liga virtualmente as duas áreas periféricas das cidades. O Brás e o Mitte são vistos como bairros que ficam dentro de metrópoles centrais, independente de suas condições individuais de Terceiro e Primeiro Mundos.
"Os dois são bairros que, com o crescimento da cidade, se deslocaram do centro para a periferia. Por isso permitem uma discussão sobre a marginalidade", explica Nelson Brissac Peixoto, idealizador do projeto.
A escolha do Brás e do Mitte como bairros-âncoras do projeto está no interesse arquitetônico e histórico de cada uma deles e, sobretudo, nas estranhas coincidências que os unem.
Antes da existência do muro, Mitte era um bairro central da cidade. Com a divisão entre as Berlins oriental e ocidental, o bairro foi encostado ao muro do lado do leste e estagnou.
O Brás teve um papel importante na primeira fase da industrialização de São Paulo. A estação de trem do Pari, por exemplo, era usada para descarregar mercadorias para o Mercado Municipal.
Nelson Brissac explica que, nos dois casos, os bairros são demarcados pela coexistência de fábricas, áreas residenciais e hiatos urbanos, ruas desplanejadamente sem saída, espaços mortos.
"O Brás e o Mitte também ficam ambos na zona leste. Há uma teoria urbana que explica que o vento sopra de oeste para leste e, portanto, bairros residenciais devem ficar a oeste. A zona leste recebe toda a fumaça e poluição da cidade".
Para mapear e descobrir os paralelos entre o Mitte e o Brás, Brissac está trabalhando em parceria com o artista gráfico e ex-secretário Ricardo Ohtake, além do Instituto Goethe, que desde o final de 95 abriu uma conta bancária para o projeto (valor não revelado) e já patrocinou duas viagens dos curadores para a Alemanha e Suíça.
A idéia inicial do projeto partiu de uma sugestão do próprio Goethe. "Nós observamos os Artes/Cidades anteriores e pensamos na possibilidade de chamar artistas alemães para um projeto similar. Já queríamos tratar o tema da metrópole, usar a arte para comentar o modo como as pessoas vão viver em grandes metrópoles no próximo século", diz Marina Ludemann, diretora da programação cultural de São Paulo. A partir daí Brissac e Ohtake foram trançando o que chamam de uma "cartografia virtual" das áreas das cidades.

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