São Paulo, segunda-feira, 11 de março de 1996
Próximo Texto | Índice

China aperta o cerco contra Taiwan

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

A China planeja aumentar a pressão sobre Taiwan e deve continuar os exercícios militares depois do dia 23, data das eleições presidenciais de Taiwan. O objetivo inicial dos testes era influenciar o resultado da votação e favorecer candidatos pró-Pequim.
Os EUA anunciaram ontem que vão mandar o porta-aviões Independence para perto da região dos testes chineses.
"Haverá consequências muito graves se eles tentarem resolver o problema com o uso da força", disse o secretário de Estado dos EUA, Warren Christopher.
A China expulsou dois jornalistas de Taiwan e três de Hong Kong, acusados de espionagem. Eles atuavam na província de Fujian (leste da China), um dos palcos dos exercícios militares iniciados sexta-feira.
Trata-se da pior crise entre China e Taiwan desde 1958. Em 1949, os comunistas venceram a guerra civil e os nacionalistas se refugiaram na ilha de Taiwan.
Comunistas e nacionalistas se dizem favoráveis à reunificação. Mas o governo de Pequim teme que Taiwan, dona de uma das economias mais dinâmicas da Ásia, declare independência.
A China já declarou que invadirá Taiwan caso a ilha declare independência.
Os comunistas acusam o presidente de Taiwan, Lee Teng-hui, de afastar a "ilha rebelde" de Pequim. Lee Teng-hui não defende a independência de Taiwan.
Mas o governo comunista acha que sua estratégia de tentar tirar Taiwan do isolamento diplomático significa o caminho da independência. Por isso, quer impedir a vitória de Lee Teng-hui nas eleições.
Os exercícios, realizados em áreas próximas a Taiwan, buscam intimidar eleitores da "ilha rebelde" para que não votem em Lee.
Apesar da pressão de Pequim, Lee deve vencer. Os planos de continuar testes depois da eleição, divulgados pela agência de notícias "Reuter", mostram que a China admite a vitória de Lee Teng-hui e vai tentar mantê-lo na defensiva.
Na sexta-feira, a China disparou três mísseis, numa etapa de testes prevista para durar até dia 15. No sábado, anunciou a realização entre amanhã e o dia 20 de exercícios militares com o uso de munição como em situações reais de guerra.
"Os 21 milhões de habitantes de Taiwan devem encontrar confiança, apesar da tempestade, e escolher com dignidade o primeiro presidente democraticamente eleito em 5.000 anos de história chinesa", declarou Lee.
Dois dos jornalistas expulsos trabalhavam para a TV estatal de Taiwan. A China os acusa de terem filmado ilegalmente parte dos exercícios militares. Acusadas de trabalhar em área fechada a jornalistas, as três mulheres expulsas são de Hong Kong. Seus nomes não foram divulgados.
Taiwan vive clima de tensão. Cerca de 300 vôos diários terão que alterar sua rota para evitar a região dos testes militares chineses.

Próximo Texto: Avião é sequestrado
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.