São Paulo, terça-feira, 12 de março de 1996
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Serviços para o príncipe

JANIO DE FREITAS

A presidência da Câmara ou um ministério, qualquer dos dois é, de fato, alta compensação material para a tarefa, aceita pelo deputado Michel Temer, de ajeitar depressa um projeto de Previdência, seja qual for, contanto que aprovável pelo Congresso. A tarefa não é difícil, e ainda menos com o compra-e-vende em ação. As implicações éticas, ou antiéticas, é que elevam o valor da compensação estipulada em reunião no Planalto.
Como líder da bancada do PMDB na Câmara, Michel Temer não poderia, eticamente, aceitar o papel de novo relator da mixórdia da Previdência. A tarefa é incompatível com a função de coordenar e orientar os deputados peemedebistas na apreciação de projetos, emendas e relatórios. É inconciliável, ainda, com a liberdade de que os deputados devem desfrutar, na apresentação e discussão de propostas, e pela qual o líder deve ser o primeiro a zelar.
A "solução maquiavélica" do deputado Luís Eduardo Magalhães era, em si mesma, uma outra compensação. Como presidente da Câmara, ele tem parte da responsabilidade, e não pouca, pela derrota que o governo sofreu, semana passada, na votação sobre a Previdência. Sem qualquer razão respeitável para isso, mas só por açodamento, Luís Eduardo Magalhães precipitou a votação, no plenário, do substitutivo que acabou derrotado.
Se quis ofertar serviço ao príncipe, o presidente da Câmara presenteou-o com um baita desserviço. E podia ter escolhido um assunto menos grave, socialmente, para demonstrar que não exige das reformas que sejam eficientes para o país e para a sociedade, como seria esperável de um político jovem e, em geral, considerado promissor.
Ao seduzir Michel Temer, Luís Eduardo deu ao governo sua compensação e uma boa saída. Ao se entregar, tão fácil, à sedução, Michel Temer rompe com a linha de conduta que mantinha, conduzindo-se com sobriedade e equilíbrio na difícil função de líder de um partido que, embora integrante das forças do governo, recusa-se a ser governista. Vejamos como se equilibra, agora, entre o papel pouco ou nada dignificante de mascarar uma reforma e, de outra parte, os seus artigos sobre Previdência e reforma, publicados antes de imaginar que estaria sujeito a ser mais um a esquecer o que escreveu.
Gorda anemia
Os políticos detestam notícias sobre problemas de saúde que tenham. Já alguns se deram mal só por tentarem tapear a opinião pública e outras opiniões. Nada a dizer, portanto, de uma das saúdes do ministro Sérgio Motta, sobretudo depois de viagens que fez e das que já programou.
Mas da saúde eleitoral pode-se falar. Para dizer que vai mal, muito mal. As sucessivas pesquisas sigilosas, variando no tempo e nas modalidades, mostraram todas um Sérgio Motta excessivamente anêmico para enfrentar os prováveis candidatos à Prefeitura de São Paulo.
É verdade que as pesquisas não podem prever os desempenhos depois que a dinheirama entra no jogo. E a saúde financeira de Sérgio Motta não teria concorrente. Mas o risco passou a ser considerado muito grande, nas avaliações do próprio Sérgio Motta e de Fernando Henrique Cardoso.

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