São Paulo, terça-feira, 12 de março de 1996
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Só ensino público pode frear mensalidades

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

'A única forma consensual de resolver o problema das mensalidades escolares e dos reajustes acima da inflação é a melhoria do ensino público.
Essa é a conclusão que se pode tirar do debate "O Preço da Educação", realizado pela Folha na última quarta-feira. Participaram donos de escolas, professores, um representante do governo e um membro da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
Embora tenha havido divergência quanto à proporção dos aumentos, todos os dados apresentados mostraram que as mensalidades têm sido reajustadas acima da inflação desde 1987.
O coordenador do Índice de Preços da Fipe, Heron do Carmo, se disse surpreso com o fato de que as mensalidades continuaram aumentando mais do que a inflação mesmo com a estabilização da moeda, após a introdução do real. No histórico que fez sobre a ques tão, Carmo apresentou dados que demonstram que, antes de 1987, o preço das escolas tentava acompanhar a inflação, sem sucesso.
Depois, as escolas passaram a fixar reajustes prevendo a inflação. Desde então, os preços têm sido sempre superiores à desvalorização da moeda. Para o presidente do Grupo -sindicato que reúne 57 escolas de elite de São Paulo-, Sylvio Gomide, os aumentos na última década decorrem de investimentos feitos pelas escolas.
No mesmo sentido, o presidente do Semesp (Sindicato das Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior do Estado de São Paulo), Gabriel Mário Rodrigues, defendeu que o custo da mensalidade reflete a política de cada instituição -e, por isso, as comparações de mensalidades criariam impressões artificiais nas pessoas.
Na platéia, o presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo, Eder Roberto da Silva, questionou a afirmação dos donos de escolas. "Não tenho visto muito investimento nas escolas".
O questionamento sobre os investimentos feitos pelos estabelecimentos particulares também foi feito pelo presidente do Sinpro (Sindicato dos Professores), Luís Antonio Barbagli. Segundo ele, enquanto as mensalidades sempre superam a inflação, os salários dos professores têm sofrido um 'achatamento'. Para o Secretário de Direito Econômico do Ministério da Justiça, Aurélio Bastos, na medida em que o ensino particular estiver desempenhando um papel que caberia ao setor público, o governo deve zelar por uma política de preço justo.
Bastos conclamou as escolas a não reajustarem os preços este mês - data-base dos professores.
Barbagli, do Sinpro, afirmou que a atual medida provisória sobre mensalidades -que só prevê reajustes de dezembro para janeiro- não leve em consideração o fato de que a data-base dos professores é em março. Com isso, as escolas, ao calcularem seus preços, são obrigadas a projetar o aumento dos professores, o que reduziria a possibilidade de negociação salarial. Para Carmo, da Fipe, a total liberdade de preços 'não mudaria muito o quadro de aumentos que temos observado'. Segundo ele, alguns setores, como supletivos, já estão perdendo alunos por causa de seus preços.
Mas os debatedores concordaram que só com um ensino público de qualidade, capaz de competir com o ensino particular, é que o aumento das mensalidades passaria a sofrer um real controle de mercado.

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