São Paulo, terça-feira, 12 de março de 1996
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Juros de empréstimos continuam altos

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Embora o Banco Central tenha reduzido fortemente a taxa de juros básica e eliminado alguns compulsórios, os juros sobre empréstimos para pessoas e empresas continuam, proporcionalmente, muito elevados.
Para o BC, o problema está nas margens dos bancos, a diferença entre o que pagam e o que cobram, consideradas muito altas. Para executivos financeiros, ainda há muitas restrições e um risco grande de inadimplência.
No ano passado, o pico das taxas de juros verificou-se em maio e junho. De lá para cá, o movimento é de queda, determinado pela redução taxa básica do BC e pela eliminação dos compulsórios, isto é, recursos que os bancos são obrigados a deixar depositados no BC.
Por exemplo, em junho de 95, de cada R$ 100 que emprestasse a empresas ou pessoas, o banco precisava depositar 15% no BC, em dinheiro e sem remuneração.
Ainda em junho de 95, de cada R$ 100 que captasse, vendendo um Certificado de Depósito Bancário, o banco precisava depositar R$ 30 no BC, remunerado à taxa básica paga pelo BC nos títulos públicos.
Assim, para emprestar R$ 100 a uma empresa, o banco precisava captar um pouco mais de R$ 145. É claro que cobrava esse custo do tomador do empréstimo, aumentando a taxa final de juros.
Só o compulsório de 15% sobre o valor do empréstimo dava 1% ao mês na taxa final. Hoje, esse compulsório não existe mais. E sobre o CDB, caiu de 30% para 20%.
Mas a diferença, por exemplo, entre a taxa básica e as taxas finais de empréstimo pessoal e crédito ao consumidor continua na faixa pouco acima de cinco pontos percentuais (veja o gráfico).
A taxa básica é a que o BC paga e que os bancos pagam entre si quando captam ou emprestam um para o outro. É taxa do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), que estava em 2,31% ao mês em fevereiro e está em 2,23% em março.
A taxa varia de banco para banco. Quando um banco de grande porte vende CDI, ele paga taxas menores. Um banco menor, de reputação duvidosa, paga mais.
Mas considerando as taxas médias de fevereiro, pode-se decompor em várias partes os juros de empréstimo pessoal, conforme apurados pelo Procon junto a oito grandes bancos de São Paulo.
Na conta feita por Carlos Henrique Brochi, diretor de Produtos do Banco SRL, dos 7,37% deve-se retirar os 2,3% da taxa básica, que é quanto o banco paga para captar os recursos que vai emprestar.
Sobram 5%. Disso, retira-se mais um ponto percentual, para pagar o Imposto sobre Operações de Crédito. Já está em 4% ao mês.
Depois, o compulsório sobre a captação e mais o seguro-depósito representam algo como 0,3%, de modo que o spread é de 3,7%.
Com essa margem, comenta Brochi, o banco emprestador tem que cobrir os custos administrativos, o risco de inadimplência, isto é, de não receber, e mais os seu lucro, sobre o qual, aliás, pagará outros empréstimos.
A taxa final, portanto, depende da capacidade gerencial do banco e da redução da margem de lucro. É por aqui que técnicos do BC dizem que pode haver redução.
Mas as taxas de dependem também, e fortemente, do estado geral da economia. Se está em marcha lenta, com poucos negócios, pouco dinheiro na praça, aumenta o risco de o devedor não pagar. E risco maior equivale a juro maior.

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