São Paulo, terça-feira, 12 de março de 1996
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A imprudência da CPI

LUÍS NASSIF

O episódio envolvendo o procurador do Banco Central -que denunciou suposta manipulação do balanço de um banco- é sintomático para mostrar os riscos de uma CPI do sistema financeiro.
Ansioso por mostrar serviço, o procurador transmitiu a informação à imprensa.
Nem se questionou se a suposta manipulação abarcava ou não aspectos ligados à solidez do banco.
No domingo, o banco publicou nota explicativa. Tinha crédito não honrado, de valor expressivo, cujo prazo para entrar na conta de liquidação vencia no último dia do semestre.
A legislação obriga que o banco provisione um valor para fazer frente ao crédito. O banco provisionou no semestre que começava. O BC julgava que deveria ter sido lançado no balanço do semestre que terminava.
No que importava -a provisão para o crédito- a situação estava sob controle.
Até explicar que focinho de porco não era tomada, no entanto, já se tinha enorme alarido no ar, ameaçando não só o banco, como seus correntistas.
Como era episódio localizado, em um banco pequeno, controlou-se a situação.
O que aconteceria se, em lugar de um procurador imprudente do BC, as informações estivessem sendo divulgadas por integrantes de uma CPI, muitos dos quais -de acordo com avaliações dos analistas políticos- estão dispostos a utilizar o poder obtido para pressionar (muitos utilizaram a palavra chantagear) o Executivo?
A crise do Nacional deflagrou um festival catártico, compreensível até, mas com grande parte da mídia mais preocupada em ver quem exprimia com mais eloquência a indignação geral, do que em apresentar soluções concretas para a miríade de distorções reveladas pelo episódio.
O que ocorreria se essas informações, provindas de uma CPI, batessem em uma mídia que, de maneira geral, patina para entender os mecanismos de funcionamento de um banco?
E que até hoje não conseguiu compreender adequadamente as diferenças entre problemas de liquidez e rombo patrimonial, entre redesconto e aporte de recursos do Tesouro?
Há que se rever a postura do BC, sua realidade salarial, o problema dos balanços bancários, essa política de crédito absurda, os mecanismos de fiscalização e punição do sistema financeiro.
Há que se denunciar os bancos que estão se valendo da fragilidade dos clientes para lhes imporem a condição de servos de gleba -até mesmo para valorizar o papel dos bancos que continuam parceiros de clientes em dificuldades.
Pretender que o mecanismo para isso seja uma CPI, é rematada imprudência.
Miranda
Na sexta-feira passada, o senador Gilberto Miranda entrou em contato com pelo menos uma redação de jornal, espalhando boatos sobre a saúde do sistema financeiro.
Nacional
A coluna de ontem informava que, ao vender a seguradora do Nacional ao Unibanco pelo patrimônio líquido, o Banco Central não teria levado em consideração o "goodwill" da empresa -corpo técnico, clientela, marketing, sistemas etc.
Informações chegadas à coluna dão conta, no entanto, de que parte das reservas técnicas da seguradora era constituída por ações do Nacional -que viraram pó.
Esse "mico", que o Unibanco assumiu por valores de mercado, corresponderia ao ágio a ser pago pelo "goodwill" da seguradora.

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