São Paulo, terça-feira, 12 de março de 1996
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Cade esvaziado disputa funcionários com a SDE

Governo quer reduzir poder para embargar fusões de empresas

ALEX RIBEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Além de ter reduzidos os seus poderes para embargar compras e fusões de empresas, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) corre o risco de não poder trabalhar por falta de conselheiros e de funcionários de apoio.
Desde ontem o Cade está mais vazio, devido ao fim do mandato de cinco conselheiros do órgão e de seu presidente.
O titular da secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça, Aurélio Wander Bastos, entrou em conflito com o Cade por causa de 12 funcionários de sua secretaria que até a sexta-feira estavam à disposição dos conselheiros.
O pedido de retorno desses funcionários à SDE, feito por Bastos, representa um corte em mais da metade do quadro do Cade. O conselho não tem pessoal próprio e se mantém com os funcionários de outros órgãos federais.
Ontem mesmo o novo presidente do Cade, Édison Rodrigues-Chaves, entrou na disputa pelos funcionários e enviou ofício a Bastos pedindo que continuem no conselho.
Rodrigues-Chaves, único conselheiro remanescente, assumiu a presidência do Cade enquanto não é aprovado pelo Senado o economista Gesner de Oliveira, indicado pelo Palácio do Planalto.
O "Diário Oficial" publicou ontem a exoneração de Oliveira do cargo de secretário-adjunto de Política Econômica da Fazenda.
Contrariado, Bastos mandou avisar aos 12 funcionários, por telefone, que iria cortar o ponto de quem não retornasse à SDE imediatamente.
Rodrigues-Chaves, por sua vez, distribuiu circular aos funcionários afirmando que, enquanto não fossem liberados por ele, todos estavam sob suas ordens.
O motivo da briga da SDE com o Cade é a virtual alteração da Lei Antitruste, proposta ao presidente Fernando Henrique Cardoso por um grupo interministerial.
A idéia é transferir à SDE parte dos poderes que o Cade tem para vetar fusões e compras de empresas.
A SDE, que hoje emite apenas pareceres referenciais, poderia mandar para o arquivo, sem consultar o Cade, processos que analisam compras e fusões de empresas.
Na prática, o governo federal pretende promover o esvaziamento do Cade, pois está insatisfeito com decisões recentes, como a que proibiu a compra da siderúrgica Pains pelo grupo Gerdau.

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