São Paulo, quarta-feira, 13 de março de 1996
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Motta faz acusações contra a Folha

DO ENVIADO ESPECIAL A TÓQUIO

O ministro das Comunicações, Sérgio Motta, disse ontem que a Folha "vai depender do governo" pelo fato de a Empresa Folha da Manhã S.A., que edita o jornal, ter decidido participar do mercado de telefones celulares.
"Vocês viram a Folha? Agora vai estar de rabo preso com o governo. Vai entrar na telefonia", disse Motta a um grupo de jornalistas às 19h40 de ontem (7h40 em Brasília).
Motta fez o seu comentário espontaneamente, sem que ninguém tivesse tocado no assunto.
Jornalistas e autoridades brasileiras aguardavam, dentro de uma sala no aeroporto de Haneda, em Tóquio, a chegada do Boeing com o presidente Fernando Henrique Cardoso.
O ministro fazia os seus comentários em tom jocoso. Rindo, perguntou ao repórter da Folha: "Como é que você vai escrever agora? É bom procurar logo um analista. Agora a Folha vai depender do governo. Já até me convidaram para almoçar lá".
Repórteres de outros jornais perguntaram sobre o que o ministro estava falando. Motta respondeu: "A Folha se associou para entrar na banda B. Associou-se com uma empreiteira, a Odebrecht. E com o Unibanco".
A banda B é uma frequência de telefonia celular que será explorada por empresas da iniciativa privada. A Folha já havia noticiado, na última sexta-feira, sua associação com as três outras empresas (Odebrecht, Unibanco e Air Touch) para entrar nesse mercado.
Sempre em tom de brincadeira, Motta disse: "O Unibanco não é o que comprou o Nacional, usando o Proer? Olha aí: a Folha se beneficiou do Proer".
Todas as declarações do ministro das Comunicações foram feitas informalmente. Não era uma entrevista formal, e ninguém gravou. Estavam presentes jornalistas de todos os principais jornais e TVs do Brasil.

Nota da Redação - A Folha decidiu participar dos leilões da telefonia celular em consórcio com Odebrecht, Unibanco e a operadora norte-americana Air Touch exatamente porque, com o leilão, as autorizações deixam de ser políticas, ou seja, deixam de atender a interesses de "amigos" do governo ou daqueles a quem o governo quer conquistar.
Mas as declarações do ministro Sérgio Motta sugerem algo preocupante não para a Folha, mas para o país: existe, no governo, o desejo de usar as licitações como meio de chantagem e de intimidação. Nada de novo exceto a desfaçatez, decorrente da certeza da impunidade, de anunciá-lo em público.

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