São Paulo, quarta-feira, 13 de março de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Corinthians tem o cenário ideal para chegar lá

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Vamos pisando macio, que devagar também é pressa, no dizer da velha malandragem.
A goleada de 5 a 0 sobre o tricolor foi histórica, sim. Mas a exibição do time do Corinthians, não.
Claro que teve lances deslumbrantes, como a tabelinha entre Souza, Tupã e Leonardo, que resultou no primeiro gol, ou as arrancadas de Edmundo, que terminaram em gol ou na expulsão do adversário.
Mas não foi, digamos, uma performance coletiva daquelas arrasadoras, de tal supremacia que o placar até se acanhasse, como costumam ser goleadas entre os grandes.
Isso porque hoje é o Botafogo que está diante do Corinthians. E, pela Libertadores, que é o alvo nobre dos mosqueteiros.
Ora, o Botafogo, pode-se dizer, vive um instante peculiar: campeão brasileiro e carioca, de enfiada, começou mal no estadual, com um empate arrancado a fórceps do Amériquinha do Zé Trajano.
Além do mais, seu técnico, Marinho Perez, está cai-não-cai. Mas o Botafogo tem Túlio, tem Beto (terá Bentinho?) e tem uma estrela solitária que costuma brilhar nesses momentos de sombra.
Por seu lado, o Corinthians estará, pela primeira vez, com todas as suas estrelas solidárias em campo, o que faz desse time, na teoria, um portento.
Sim, pois a bola que cair no meio-campo será tratada com esmero e rapidez por um seleto grupo de craques, de Marcelinho a Edmundo, passando por Souza e Leonardo, que, como se previa, parece ter resolvido o crônico problema do comando de ataque alvinegro.
Tudo isso no embalo da goleada sobre o tricolor forma um cenário perfeito para o Corinthians iniciar bem a caminhada em direção a Tóquio.
*
Se a seleção pré-olímpica deixou uma certeza unânime é esta: precisamos de uma dupla de zagueiros de verdade.
Sem dúvida, jovens como Ronaldo, do Atlético-MG, André Santos, do Corinthians, e Sorlei, do São Paulo, são melhores do que os quatro convocados por Zagallo.
Mas o mais ajuizado, no caso, é recorrer mesmo a uma dupla já testada e aprovada com louvor, tipo Aldair e André Cruz, queimando-se assim duas das três vagas destinadas a jogadores com mais de 23 anos, uma exigência cretina da Fifa, que não quer o futebol da Olimpíada fazendo sombra à Copa do Mundo.
Por que, no basquete, os EUA podem exibir seu Dream Team, e, no futebol, Brasil, Argentina, Alemanha, Itália e demais potências têm seus sonhos limitados por essa determinação anacrônica? Esses havelangismos que me irritam.
Mas, voltando à zaga. O que acontece que, num momento de farta colheita de craques em todas as posições, até no gol, onde sempre fomos avaros, sobram talentos, enquanto na zaga há tamanha carência?
Em primeiro lugar, zagueiro de área costuma mesmo ganhar porte com a idade. Depois, vivemos na última década uma experiência inusitada: a exportação em massa de zagueiros, como Aldair, André Cruz, Antônio Carlos, Júlio César, Aloísio etc.
Assim, os jovens não têm em quem se apoiar, quando ascendem. Eis o busílis.

Texto Anterior: Presidente do Botafogo tenta tranquilizar equipe
Próximo Texto: A fã número 1
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.