São Paulo, quinta-feira, 14 de março de 1996
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Simbolismo

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Dias atrás, o líder sérvio Radovan Karadzic atacou seu julgamento, na CNN:
- Não sei até quando vai esta farsa. Acho que até a eleição nos Estados Unidos.
Antes dele, foi o presidente da assembléia cubana quem atacou, na CNN, a exploração do caso dos aviões:
- Querem usar para objetivos locais. Não somos responsáveis pelo fato de estarem tendo eleições lá. Mas eu penso que deveríamos exigir, de um governo que pretende ser líder do mundo, que se comporte com responsabilidade moral e não como se estivesse em campanha pela prefeitura de uma cidade provinciana.
Que os Estados Unidos são o líder do mundo, ninguém mais questiona, nem Cuba.
E a imagem da nova ordem é a de ontem, da "photo-op" da reunião antiterror, no Egito. Sempre na CNN:
Bill Clinton, muito alto, com o sorriso infantil conhecido, no centro e à frente dos demais. Do lado e atrás, indistintos, o rei Hussein, John Major, Hosni Mubarak, Felipe González, Helmut Kohl, Iasser Arafat, Jacques Chirac e duas dezenas de chefes de estado. Entre eles, apagado, Boris Ieltsin.
Convocados todos.
Vale lembrar uma cobertura da C-Span, uma palestra na universidade da Califórnia, de um antigo agente da CIA, hoje escritor, Philip Agee.
Ele citou documento obtido pelo "New York Times" três anos antes, do governo americano, usado para justificar o orçamento quinquenal de defesa. Um trecho:
- Nossa estratégia deve concentrar-se em impedir a emergência de algum futuro competidor global. Nosso primeiro objetivo (...) seja no território da antiga União Soviética ou qualquer outro lugar.
Outro trecho:
- Nós devemos manter os mecanismos para desviar possíveis competidores de sequer aspirarem a um papel regional ou global maior.
Pela cena de ontem, descrita como "triunfo de simbolismo" na CNN, conseguiram.

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