São Paulo, quinta-feira, 14 de março de 1996
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O tamanho do escândalo

ALOYSIO BIONDI

O escândalo do socorro ao Nacional é maior do que os dados, já espantosos, permitem imaginar. Vale a pena dissecar a operação:
*Garantias - o presidente do BC confirma que emprestou R$ 6 bilhões ao Nacional. Alega ter exigido, como garantias, créditos diversos no montante de R$ 7,2 bilhões, "basicamente" créditos do Fundo de Compensação de Variações Salariais (isto é, saldos de dívidas de contratos de compra de imóveis que o Tesouro deve pagar).
Agora, atenção: o Nacional não tinha esses créditos, que são negociados no mercado a 35% do valor, porque vencem a longo prazo ou o Tesouro tem atrasado seu pagamento.
O que fez o BC? Procurou três grandes bancos para "venderem" créditos do FCVS ao Nacional -e emprestou o dinheiro ao Nacional para comprá-los, por 50% (e não 35%) do valor. Em seguida, aceitou os títulos pelo valor total, isto é, 100%.
Na prática, tudo se passa assim (em números aproximados, para simplificar): no primeiro momento, o governo entrega R$ 3 bilhões ao Nacional, sabendo que o banco não vai pagar.
No segundo lance, entrega mais R$ 3 bilhões para o Nacional comprar os créditos. No terceiro lance, aceita os títulos pelo valor de R$ 6 bilhões, para "garantir" os dois empréstimos.
Quem não quer? Tudo à custa do Tesouro (do contribuinte), que fica com o "rombo".
*Os donos - o Unibanco pagou apenas R$ 1 bilhão pela compra do Nacional, incluindo toda a rede de agencias, a empresa seguradora, as empresas de cartão de crédito -e, principalmente, todo o "negócio" montado ao longo de décadas, com seu potencial de lucros.
O valor, a ser pago ao BC para cobrir parte do "rombo" do Nacional, é considerado baixo.
Seria demasiado odioso supor que o modesto preço aceito pelo governo FHC possa ter aberto caminho para os antigos donos do nacional receberem pagamentos "por fora", pelo valor justo do negócio?
Lá fora Há uma guerra entre governo e Congresso no Japão. O governo quer autorização para socorrer cem instituições bancarias (que operam com "cadernetas de poupança"). Pede R$ 6 bilhões. Tanto quanto o governo FHC entregou a um só banco.
Polianas
Os jornais noticiam que as demissões na indústria paulista em fevereiro chegaram a 25 mil.
Os jornais se esqueceram de dizer que, somente na última semana do mês, foram alarmantes 14 mil demissões.
Desemprego em aceleração: 2.300, depois 4.100, depois 5.000 e finalmente 14 mil demissões a cada semana.
A culpa
Aparelhos eletrônicos e automóveis nacionais são os raros setores com aumento de vendas em 96, na comparação com 95.
Sem mistérios: não há mais a concorrência dos produtos importados depois que o governo elevou os impostos sobre as compras lá fora. O resto da indústria? Arrasada.
Prioridade?
O governo anuncia prioridade à agricultura neste ano. Primeiro passo: estímulo à produção de trigo, cujo preço disparou no mercado internacional.
Mas o preço mínimo anunciado pelo presidente FHC, de R$ 157 a tonelada, representa uma redução de 10% sobre o valor de 1995, quando descontada a inflação. E em 1995 o preço já havia sido cortado, para forçar a redução do plantio.
Banco do Brasil
Previsto prejuízo de R$ 4 bilhões no balanço de 1995 do Banco do Brasil. Não há nenhum paralelo com o "rombo" do Nacional ou do Econômico.
O BB tem R$ 7 bi a receber dos agricultores, que foram lançados como prejuízos. Estão sendo trocados por títulos do governo este ano. Vão virar lucro.
Pepineira O BNDES continua a vender ações de empresas, que estavam em seu cofre, por leilões em Bolsas. No mais recente, de ações da Telemig e Telerj, três bancos organizaram a operação. Ganharam 2,5% pelo serviço.
Sobre R$ 100 milhões em ações da Telemig, foram R$ 2,5 milhões. Ou mais de 5% de lucro líquido da Telemig em três trimestres de 95.
Perguntinha
O que está segurando a inflação? O Plano Real? Ou a recessão?

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