São Paulo, quinta-feira, 14 de março de 1996
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Republicanos perguntam onde está Reagan

DAVID DREW ZINGG
EM SAMPALÂNDIA

Bem, parece que Bob "Darth" Dole praticamente assegurou sua nomeação a candidato republicano à presidência da Gringolândia, para concorrer com (e perder para) Bill "Whitewater" Clinton.
Esta NÃO será a eleição norte-americana mais emocionante dos últimos anos.
Não que a imprensa gringa não se disponha a suar sangue e lágrimas para fazê-la parecer realmente dramática. Explico: há tantos repórteres, editores e publishers bem-pagos demais por aquelas bandas que eles se vêem obrigados a dar uma injeção de ânimo nas vendas com qualquer história, verdadeira ou não, para conseguir o cash dos leitores com o qual eles se pagam.
Ou como você imagina que os barões da imprensa pagam seus verões em The Hamptons ou Martha's Vineyard, os equivalentes a Búzios, Punta del Este ou Necker Island?
Seja como for, o velho Tédio Encarnado Dole parece ter finalmente deixado para trás o Novo e Rico Kid on the Block, Steve Forbes. O pai de Steve deixou para seu filho um saco cheio de cédulas de um milhão de dólares, que ele está ocupadíssimo em gastar, tentando comprar a presidência para poder brincar com ela em casa, depois de voltar do trabalho. Forbes pai também deixou para seu filho uma charada: é normal ser gay e papai ao mesmo tempo? Vá saber -o velho Forbes era as duas coisas.
Ao que parece, Dole também já deixou para trás Pat Buchanan, que era candidato a um emprego que ele mesmo inventou: o do primeiro Der Fuhrer dos EUA.
Buchanan estava dando todos os passos políticos certos, calculados cuidadosamente para agradar aos eleitores de -1896.
Ele era um candidato perfeitamente adequado ao século 19. Tinha algo a oferecer a cada eleitor pobre, analfabeto, provinciano -incluindo a discriminação racial.
A indústria siderúrgica adorava Buchanan. Ele declarou que se fosse eleito, a primeira coisa que faria seria erguer uma cerca de aço que fosse do Atlântico ao Pacífico -uma distância de apenas uns 4.800 km. A cerca serviria para impedir aqueles mexicanos horríveis de diluir o estoque de puro sangue norte-americano.
O simpático Buchanan trataria o Canadá com equanimidade. No caso dos irmãos ao norte, Buchanan achou que a Grande Muralha da China seria "um ótimo modelo a seguir".
Perot A parte intrigante da história, segundo São Pat, é que se ele sentir vontade de fugir dos elefantes republicanos e fundar um terceiro partido, já pode contar com um aliado potencial. Esse colega potencial abriria suas orelhas que lembram asas e iria voando ao auxílio de Buchanan.
Estamos falando, é claro, daquele velho estraga-prazeres político Ross Perot.
Se Buchanan ou Perot escolhessem a via do terceiro partido, todo mundo sabe que estariam entregando a eleição ao Bill Clinton numa bandeja de prata. Imagine só qual não seria o resultado se Buchanan e Perot concorressem juntos!
Na condição de democrata de carteirinha, tio Dave está rezando para a Dupla Terrível concorrer junta como representante do novo e glorioso movimento político da Gringolândia que é o Neonazismo Já.
Na condição de colunista registrado da Folha, tio Dave apela sentidamente ao Grande Eleitor Lá no Alto para que mande a dupla cômica seguir em frente com suas aulinhas inigualáveis de humor negro político.
Jânio, Nixon e cia. Como Jânio Quadros e Richard Nixon sabiam tão bem, não interessa, na verdade, se um político é amado ou odiado, desde que os eleitores prestem atenção nele.
Trickey Dickey (Nixon, o ardiloso) costumava dizer que "em política, o pior pecado é ser chato."
Talvez Pat Buchanan diga sua única verdade quando lamenta que "Bob Dole seja tãaaaao sem graça."
Dole é um senador originário do Kansas, um Estado achatado no meio-oeste americano, e se você gosta de velhos rabugentos que andam por aí mostrando o otimismo contagiante do lodo viscoso verde-musgo que cresce nas paredes de cavernas afundadas, você vai adorá-lo.
Um grande ponto de interrogação sobre a corrida presidencial está sumindo juntamente com Adolf Buchanan e o Velho Saco de Dinheiro Forbes, mas seu lugar está sendo tomado por um monte de pontos de exclamação.
Meu Deus, Bill Clinton pode até ser reeleito! Uau -desta vez parece que realmente chegou a vez de Bob Dole!
Desta vez Bob Dole está pronto para realmente lutar para chegar àquela cama grandona que tem na Casa Branca.
Humor morto Uma coisa, pelo menos, se pode dizer por Dole -ele é um sujeito que morre tentando. Dole está com 72 anos e esta é sua terceira tentativa de atingir o ápice da glória. Se ele não conseguir desta vez, como dizem no beisebol, "Cai fora!" Se Dole fracassar desta vez, quem sabe ainda lhe reste tempo para encomendar a lápide do seu túmulo. Ele não tem um único inimigo no mundo -já morreram todos.
Se Dole perder para Clinton, o que já é certo, as casas funerárias vão começar a lhe enviar folhetinhos promocionais. Ele está numa idade em que todos os telefones em seu caderninho preto são de urologistas.
Na verdade Dole, o azedo, possui um senso de humor escondido. Ele o mantém escondido porque é malicioso e muitas vezes mesquinho. Dole mantém sob controle aquele lado malvado para evitar ofender potenciais aliados políticos. Ele só se permitiu alguns comentários maliciosamente engraçados sobre seu ex-rival e agora defensor, o senador Phil Gramm.
Diz Dole, "O lugar mais perigoso no capitólio da nação fica entre Phil Gramm e uma câmera de TV". Ou então "O senador Gramm é como uma barata em que você pisa, mas ela continua se arrastando por aí, por mais que você tente esmagá-la."
Sujeito simpático, esse Dole.
Ele provavelmente já ganhou a indicação para candidato presidencial republicano, e esse fato está levando os poucos integrantes pensantes do partido à loucura. É que Dole, ao que tudo indica, não tem visão alguma do que fazer no Gabinete Oval da presidência.
O que faz falta total em Dole é aquela visão calorosa, positiva, convincente de Ronald Reagan, que está cuidando de seu mal de Alzheimer na Califórnia, o Estado Ensolarado.
A pergunta que andam cochichando pela sede do Partido Republicano é "Onde estás, Ronald Reagan, agora que mais precisamos de ti?"

Tradução de CLARA ALLAIN

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